Um espaço onde apresento meu ponto de vista sobre a vida e as coisas que lhe dão (ou não) sentido.
domingo, janeiro 22, 2012
Confundido com um pastor
sábado, janeiro 21, 2012
Uma foto e uma caminhada
Ela estava tentando enquadrar, num plano aberto, o novo Museu do Artista Popular e a antiga chaminé do Curtume dos Motta, Parque da Criança. Tentava registrar com sua câmera profissional como Campina Grande ainda registrava o antigo e o moderno. O curso de Arte e Mídia havia ampliado sua visão de mundo. Gostava de fotografar o cotidiano, mas de ângulos que outros não percebem. Depois montava e remontava essas imagens como se fossem peças lego; outras nem mexia, deixava como eram.
Aquela foto surgira por acaso. Na verdade, vinha de uma caminha frustrada no Parque da Criança. Tentou estacionar lá, mas não havia vaga. Pensou em ir para casa terminar o trabalho que começaram ainda no início das férias. Pegou o carro e, quando passava em frente ao Regina Coeli, teve a ideia da foto. A bela sombra que o novo prédio formava no espelho d’água era um convite. Precisava registrar aquilo, pois o sol começa a descer atrás da Decorama, pintando o céu de rubro.
Primeira ideia foi fotografar o monumento em contraplongé, vendo a cena de baixo, pegando a base de um dos cilindros com um prédio ao fundo, aquele que fica ao Lado do Parque da criança. Afastou-se um pouco do objeto e enquadrou perfeitamente a cena descrita no início do texto. Enquanto colocava a câmera no case, ouviu o chiar de pedrinhas atrás dela. Tomou um susto, receosa de ser um possível assaltante. Viu um sorriso amigável e encantador.
“Assim como Niemeyer, gosto da leveza das curvas e seus contornos. Prefiro uma arquitetura curvilínea à coisa reta, ossuda e exageradamente alongada dos prédios neoclássicos do Catolé. Eles deixam todas as cidades com a mesma cara. Veja a diferença entre esse prédio e o da FIEP. Os dois são em concreto armado, mas esse tem charme, o charme das curvas, é como uma mulher com seus cabelos esvoaçantes, deixando o vento passar, nada estanque”. Ouvira aquilo como se fosse uma aula de estética.
Ela achou aquilo interessante, mesmo com alguns quilos a mais, achou charmosa a descrição das curvas. Sentiu-se uma obra de Niemeyer, pena não passar uma suave brisa para esvoaçar seus cabelos recém-lavados. Há tempos vinha se sentido um quadro de Fernando Brotero. Sabia que era certo exagero. A verdade é que havia ganhado uns quilinhos, mas qual a mulher que não se acha gorda? Apenas riu. Nossa! Se ele soubesse que aquelas curvas ficavam mais belas ao som do Derbake.
Ele disse que também gostava de fotografar e, em seus 28 anos, já havia viajado esse país e feito belas imagens, desde as terras ressequidas do semiárido aos rios caudalosos do Amazonas. Dessa vez, ela riu um sorriso tímido com o rosto ruborizado, se perguntassem se estava corada diria que era o reflexo de seu cabelo rubro. Um fotógrafo profissional, Caramba! Tinha um quê de encanto naquele homem; não sabia dizer o que era. Queria continuar conversando com ele. Recolheu a máquina. Ele percebeu o modelo e o fabricante.
Lá estava tentando enquadrar, num plano aberto, o novo Museu
do Artista Popular e a antiga chaminé do Curtume dos Motta, Parque da Criança.
Tentava registrar com sua câmera profissional como Campina Grande ainda
registrava o antigo e o moderno. O curso de Arte e Mídia havia ampliado sua
visão de mundo. Gostava de fotografar o cotidiano, mas de ângulos que outros
não percebem. Depois montava e remontava essas imagens como se fossem peças de
lego; outras nem mexia, deixava como eram.
A primeira ideia foi fotografar o monumento em contraplongée, vendo a cena de baixo, pegando a base de um dos cilindros com um prédio ao fundo, aquele que fica ao lado do Parque da criança. Afastou-se um pouco do objeto e enquadrou perfeitamente a cena descrita no início do texto. Enquanto colocava a câmera no case, ouviu o chiar de pedrinhas atrás dela. Tomou um susto, receosa de ser um possível assaltante. Viu um sorriso amigável e encantador.
Ele disse que também gostava de fotografar e, em seus 28 anos, já havia viajado esse país e feito belas imagens, desde as terras ressequidas do semiárido aos rios caudalosos do Amazonas. Dessa vez, ela riu um sorriso tímido com o rosto ruborizado, se perguntassem se estava corada diria que era o reflexo de seu cabelo rubro. Um fotógrafo profissional, Caramba! Tinha um quê de encanto naquele homem; não sabia dizer o que era. Queria continuar conversando com ele. Recolheu a máquina. Ele percebeu o modelo e o fabricante.
Em outros tempos seriam rivais. Ele era Nikon; ela Canon. Riu e pensou que o tempo de “Eduardo e Mônica” já havia passado. Mesmo assim, quis descobrir se ela também gostava de magia e meditação. O que mais ela fazia? O mais velho era ele, e moreno, um bom contraste! Então, ela que seria sua “Eduarda”, mas com aquela forma de segurar a câmera e o jeito que a vira enquadrar a imagem ele deduzira que ela não era principiante. Mas o que dizia para puxar conversa e saber mais dela?
Pensou consigo mesmo que aquele cabelo vermelho e aquela tatuagem demonstravam que era uma pessoa de atitude. De personalidade forte. Gostava de mulheres de personalidade. Gostava de cabelos vermelhos e curvas. Verdade seja dita que, como fotógrafo, até tinha registrado magérrimas bonitas, mas preferia as curvilíneas. Gostava até de suas mãos. Como adorava caminhar, percebeu que ela estava com roupas de caminhada. Ele frequentava Tenebra, gostava de Olinda, música alternativa, será que ela curtia esses lugares? Pensou, pensou e emendou:
“Campina é uma cidade movediça. Está sempre mudando. Lembro-me como se fosse hoje. Vim pegar meu cartão de inscrição do vestibular aqui, no Clube das Acácia, onde hoje fica o solar das Acácias. Aqui onde estamos era o antigo Complexo 5, sabia? Era uma visão interessante da cidade. Nossa, estou ficando velho, sentindo saudade do passado. É que Campina é a cidade do foi. Olhamos para um lugar e dizemos, aqui foi o Miúra, aqui era o Bar e Arte, aqui era isso era aquilo”. Não sabia por que tinha dito aquilo, mas fizera efeito.
Ela achou aquilo lindo. Um homem que fala apenas de academia, de carro... e, principalmente, gosta de curvilíneas. Era interessante pensar que ela não estava acima do peso, era curvilínea como as obras de Niemeyer. Gostava disso, soava charmoso.
Ela foi até ao carro, colocou a câmera no porta-malas. Ao fechá-lo, ele viu o adesivo do Curso de Arte Mídia. “Sabia que era minha primeira opção de curso, mas acabei fazendo Direito, meus pais, sabe como é... Depois que me graduei descobri que não é isso que queria fazer, meu lance era fotos. Campanhas publicitárias, fotografia de aventuras. Isso me deu dinheiro, uma vida tranquila e meus pais desencanaram e me deixaram ser feliz. É isso que quero: apenas ser feliz.”
Eles não sabiam para que lado começar, se horário ou anti-horário, pouco se lhes dava, o que mais importava mesmo era o que conversariam durante o percurso.
Já era noite. Olharam para uma aureola iluminada de uma santa, que não sabiam bem quem era, e leram os dizeres em uma plaquinha: “Sua chegada nos alegra; sua presença nos fala de Deus”. Ele achou aquilo tudo muito metafórico. Continuaram caminhando.
Quando chegaram à lateral do Parque da Criança perceberam, automaticamente, uma foto que nunca viram: a foto do Museu com o viaduto como pano de fundo. Aquilo era mais metafórico que a plaquinha.
Será que isso queria dizer alguma coisa? Um viaduto é uma passagem, uma ponte. O que essa ponte estava a dizer para os dois: passar por uma transformação em suas vidas? Trocaram telefones e decidiram se encontrar. Como não tem filme do Godard passando, o Parque da Criança, local das caminhadas dela, pode ser um bom local.
sábado, janeiro 07, 2012
Liquidação e sexo não combinam
Quem conhece Campina Grande e sua história sabe que a Rainha da Borborema vive do comércio. Algumas ruas do centro são características por determinados “produtos”. A Rua João Pessoa é sui generis pelos diferentes comércios que oferece. Quem passa pela rua em diferentes horários sabe do que estou falando.
sexta-feira, janeiro 06, 2012
Convite para um açaí
quinta-feira, janeiro 05, 2012
A falta de ética de um professor semideus
Primeira aula do ano. O professor entrou na sala, fez alguns
comentários sobre o Réveillon da capital e ironizou a queima de fogos no Açude
Velho em Campina. Perguntou se alguém havia ido ver. Como já havia feito piadas
sobre o assunto, quem admitiria publicamente que esteve no açude assistindo à
queima de fogos?
Ao conjugar o verbo "caber" na primeira pessoa do
indicativo, mais uma vez, ele voltou a falar da comilança no final do ano,
mencionando que as pessoas engordam muito nessa época. Brincou dizendo que se
houvesse mais uma semana de festas, ele não caberia em duas cadeiras. A turma
riu, porém, um riso amarelo pairou na sala, pois havia muitas pessoas acima do
peso.
Ao discutir a função sintática da contração de preposições e
artigos, o professor destacou a importância do artigo. Questionou um aluno se
ele gostava "de loiras" ou "das loiras". Como o aluno
respondeu "das loiras", incluindo cerveja, como enfatizou, o
professor sarcástico disse que o estudante poderia procurar a Rua João Pessoa e
encontrar "algumas delas", referindo-se às travestis que trabalham na
região. Sem rodeios, a turma riu mais uma vez.
Aqui e ali, ele faz piadas sobre cidades pequenas,
retratando-as como “atrasadas”, sem vida, quase uma “sociedade primitiva”.
Aproveita para ridicularizar a Região Norte, usando como exemplo uma aluna de
Belém. Em diversas ocasiões, utiliza incorretamente a colocação pronominal e a
concordância para se referir às pessoas economicamente desassistidas. E ele o
homem da distinção.
O ápice do absurdo ocorreu na última terça-feira. Segundo
ele, uma aluna deixou um bilhete pedindo desculpas, alegando não gostar desse
tipo de piadas, por achá-lo chato e até grosseiro. No entanto, ela foi à igreja
e teve uma revelação, sentindo a necessidade de pedir desculpas ao professor.
Assim fez, deixando um bilhete na instituição onde leciona, sem querer ser
identificada.
O cursinho, talvez sem saber que o professor repreenderia a
aluna, identificou a pessoa como uma loira, sem mais detalhes. O professor,
piadista e conservador, começou descrevendo o conteúdo do bilhete, ironizando o
credo da moça e a forma como ela teve a revelação. A turma ficou dividida:
risos de um lado e constrangimento de outros, especialmente dos muitos
evangélicos presentes.
Para finalizar, com muito sarcasmo, afirmou que quem deveria
pedir desculpas era ele, pois não sabia que ela não gostava de humor, sugerindo
que ela era uma pessoa mal-humorada. Com falta de ética e educação, ainda usou
o clichê de que "nem o Salvador agradou a todos", imaginem ele.
Ressaltou que sua função não era agradar a ninguém, mas sim ensinar o que os
alunos NÃO SABIAM. Seria ele uma espécie de salvador da ignorância alheia? Mal
sabe ele que naquela turma há pessoas graduadas em Letras e outros que não
suportam piadas de mau gosto, embora não expressem isso por medo de
represálias.
Então, qual seria o motivo de ele continuar fazendo essas
piadas? Espero que a instituição de ensino não concorde com esse tipo de
posicionamento. O cursinho não pode permitir que isso ocorra, nem deixar que os
alunos se sintam constrangidos devido à conduta "conservadora" e
antiética de um professor.