domingo, maio 13, 2012

Boas companhias são pepitas de ouro




O sucesso de uma festa não está na bebida farta, nas comidas deliciosas e na decoração exuberante. Já fui a comemorações assim, e o resultado foi um desastre. Lembro-me de uma cerimônia de premiação de uma TV importante aqui no estado, com tudo o que descrevi, e meus convivas discutiam quantas calorias havia em uma taça de água de coco ou em um tomate seco. Ninguém merece!

Eu mesmo já participei de encontros memoráveis regados a bebida ruim, tira-gosto sofrível e quase zero de conforto, embora a decoração fosse uma lua linda e nossa coberta um orvalho agradável para aliviar o calor do verão implacável. O que conta mesmo em uma festa é quem está dividindo os momentos com você. E não precisa ser papo cabeça. Ser intelectual o tempo todo é chato!

No início da festa, eu sou uma espécie de flâneur, um ser errante, perambulando de mesa em mesa, ouvindo uma piada aqui, sabendo das novas ali, mas que está secretamente em harmonia com a sua história e numa busca de boas conversas e bom humor. Afinal, ninguém merece discutir calorias de um tomate seco. Prefiro devorá-los com queijo e vinho quando os encontro.

Achando boas companhias, me aboleto, puxo uma cadeira e fico até o fim. As conversas de festas são aquelas intermináveis sobre assuntos que não estavam no roteiro. Planejamos a conversa toda na cabeça, mas o ruim é que ela não seguiu o script. Até na hora da piada nos atrapalhamos e assassinamos o gran finale; isso vira outra piada. Falamos uma bobagem, damos gargalhadas, fofocamos colegas de trabalho, da mídia, dos artistas que se acham...

Depois de a bebida fermentar no quengo, tem o momento de querer explicar o mundo em poucas palavras e dizer que a culpa disso é aquilo e aquilo outro só aconteceu porque o fulano de tal fez a coisa de tal jeito. Explicar a cultura de um povo por um esporte nacional é outra complicação, mas se tenta. O resultado é hilário, tem briga, debates inflamados, mas nada que resista até o próximo trago e um salgadinho para tirar o gosto. A fila anda, as conversas não podem parar.

Ontem estive em uma festa com boas companhias, e um dos convivas, depois de tentar sintetizar o problema da economia global, soltou uma pérola que virou bordão. Disse que quem mandava no mundo eram os Estados Unidos, não porque tinham dinheiro e eram a primeira economia, mas apenas pelo fato de terem um exército poderoso. Disse: “quem tem mais dinheiro no mundo é o Iraque, além de petróleo tem as maiores pepitas de ouro do mundo”.

Um dos convidados, com aquela carinha de sonso, mas com uma sabedoria ancestral que se esconde debaixo dos cabelos encaracolados, fez um biquinho e 'arremedou': “pepita”, quase dizendo como aquele apresentador de rádio que manda tornar a dizer a hora com seu bordão “repita”. Foi muito engraçado. A partir de então, tudo era explicado com uma pepita ou falta dela.

Se havia pobreza em alguns países era por falta de “pepitas”. Se a pessoa era feia, lhe faltavam boas “pepitas”. Se os dentes de um não brilhavam, também faltava a bendita “pepita”. Depois da festa, o autor da pérola foi deixando cada uma das “pepitas” em casa, desde o casal que estava tentando fazer uma “pepitinha” e não queria desperdiçar o período de fertilidade da esposa, até o outro que parou duas vezes para comprar umas cervejinhas para sua “pepita”, que estava em casa dormindo como criança com a boca aberta.

Boas companhias são verdadeiras pepitas de ouro em uma festa. Não tem decoração, bebida farta, salgadinhos gostosos, nem bolo recheado de menta que pague. Cada pepita tem seu brilho próprio e, mesmo os “calados” da mesa, dão o ar de sua graça. Adorei a festa, principalmente pelas pepitas que brilhavam na mesa, que passei a chamar de minha também.