sábado, janeiro 07, 2012

Liquidação e sexo não combinam







Quem conhece Campina Grande e sua história sabe que a Rainha da Borborema vive do comércio. Algumas ruas do centro são características por determinados “produtos”. A Rua João Pessoa é sui generis pelos diferentes comércios que oferece. Quem passa pela rua em diferentes horários sabe do que estou falando.

Famosa pela grande quantidade de lojas e produtos oferecidos, a rua tem um comércio bem intenso. Às oito horas as lojas abrem suas portas e fecham a partir das 17h. Quando a noite inicia, os funcionários começam a colocar o lixo para fora.

Enquanto as ruas vão ficando às escuras, o lixo é tirado e os catadores vêm recolher o que pode ser reciclado, um novo comércio toma as esquinas da rua: a prostituição. A área é dominada por travestis, da esquina da Marques do Herval a Índios Cariris. Há noites que são mais de 10. Carros e mais carros param, levam “as meninas” e deixam-nas novamente. Não são apenas carros populares.

Esse movimento vai até perto das cinco horas, momento em que os garis começam a varrer o lixo que sobrou. Depois disso, o comércio legal volta a reinar e segue seu ciclo Ad infinitum. Para quem mora na parte citada da rua, quando o comércio do sexo está animado é sinal que a rua está segura. Não se tem medo de assaltos. As travestis respeitam os moradores. Estão ali a trabalho.

No entanto, nesta quinta-feira, tudo foi diferente. Uma loja de eletroeletrônicos fez uma megaliquidação. Do meio-dia da quarta-feira, até às 15h, da sexta-feira, a rua foi tomada por famílias inteiras que passaram a noite na fila. Via-se de tudo, cadeiras de praia, garrafas de café, pessoas jogando baralho, dominó, comida, cobertores, até barracas de camping. Cada um que quisesse ser o primeiro a entrar na loja e comprar barato. 

Nessa noite, houve uma sensação de segurança e tranquilidade na rua. Aquela multidão que queria comprar produtos com até 70%, como anunciava a loja, dava à rua uma cara de habitável, segura e com vida, coisa que normalmente não tem. Passando pela calçada junto da multidão, que somavam mais de 500 pessoas dos dois lados da rua, lembrei-me do livro de Jane Jacobs, “Morte e Vida de Grandes Cidades”.

Para a autora, as ruas das cidades seriam mais seguras se as cidades não fossem planejadas para apenas uma finalidade, se tivessem prédios diferentes, de idades diferentes e funções diversas, fazendo com que em diversas horas as pessoas fossem a esses locais levando vida e dando organicidade às ruas. Olhando aquela festa, concordei com a norte-americana.

Fiquei apenas com pena das meninas que tiveram um dia de folga compulsória, pois como que os carrões iriam parar e contratar um serviço diferenciado na frente de mais de 500 curiosos que só queriam um desconto na boca do caixa?

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