O uso de terno e gravata não é comum no interior. Mesmo que as pessoas imitem o modo de vida das grandes cidades, a forma de vestir dos moradores de pequenas cidades é simples. O padrão do cotidiano é chinelo e bermuda ou o velho e bom jeans e camiseta, mesmo para se trabalhar. Como não há empresas privadas com executivos formais ou repartições públicas e suas roupas litúrgicas, quem usa esse tipo de roupa ganha logo destaque: ou é advogado, político ou pastor evangélico.
Com o fenômeno das igrejas pentecostais e neopentecostais chegando às pequenas localidades, o vestuário masculino composto de calça, paletó e, às vezes, colete do mesmo tecido e cor, mesmo as pessoas não sabendo bem combiná-las em corte, cores e tamanhos adequados aos corpos. Por o evangélico ter um comportamento próprio, deduz-se ser um membro de uma dessas igrejas pela vestimenta.
Porém, em certas formalidades, os homens vestem-se de terno: alguns por o acharem elegante, ficarem parecidos com um “deputado” ou galã, mesmo correndo o risco de ser confundido com um adepto do luteranismo; outros devido às namoradas ou esposas exigirem, pois acham que o look ficaria desequilibrado – elas muito elegantes, com seus vestidos de festa, suas bolsas douradas de mão e eles de jeans e camiseta.
Ontem, fui testemunha de um casamento em minha cidade natal. Como reza a tradição e a ocasião exige, abri meu armário e peguei a roupa que menos uso em meu dia a dia, o bendito terno. Parte protocolar na igreja recepção concluída, fomos para o clube da cidade. Festa terminada, dirigimo-nos, um amigo e eu, à casa de minha irmã, onde estávamos hospedados. Do local da recepção até sua casa não passa de 1 km. Como é uma cidade pequena e não há violência, subimos a pé.
Umas 20 casas após o prédio da igreja Assembleia de Deus e uns trinta metros do cemitério municipal, vimos um vulto que se aproximava de nós. Em meio àquelas névoas pré-garoa, típicas do período chuvoso, vemos aquele ser branco vindo em nossa direção. Ao chegarmos mais perto percebemos que era um senhor com aproximadamente 50 anos, bêbado como um gambá. De longe, estendendo a mão, foi dizendo: “Boa noite, bom dia”, com a voz trôpega a imitar seus movimentos. Não o reconheci, mesmo assim o cumprimentei educadamente.
Ele chegou mais próximo, viu-nos no claro e percebeu que eu estava de terno. Num meneio solene de corpo, entre a desculpa e a ironia, olhou para mim e soltou: “Aleluia, irmão”. Não demonstrei o sorriso, mas saí quase gargalhando com a cena. Certamente ele pensou que deveríamos vir de um evento religioso na igreja e não da parte profana de uma comemoração de núpcias. Assim são as cidades pequenas: espontâneas e nos surpreendendo sempre.
hahahahahahaha são personagens assim que nos levam ao riso de vez em quando :)
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