sexta-feira, novembro 19, 2010

Espetáculo financiado pela PETROBRÁS reconta A Descoberta das Américas



Poucas vezes, em minha vida, vi um espetáculo tão completo como o que foi apresentado na noite desta sexta-feira (19), no SESC Centro de Campina Grande: “A Descoberta das Américas”. No palco, desfilaram personagens épicos, míticos e cômicos, vividos pelo mesmo performer, o ator Júlio Adrião.

Com a encenação de hoje, Adrião rompe de vez com as classificações de narrativas. Ele não fez um monólogo, apesar de ser o único ator em cena, pois ali interagem a bruxa e o inquisidor, o ameríndio e o conquistador, o comandante e costurador de velas.

Nos 90 minutos do espetáculo, as índias voluptuosas e seu conquistador europeu são vistos interagindo no mesmo corpo. O cavalo, animal que não existia nas Américas, convive com o macaco serelepe que pula de galho em galho, fazendo suas ‘molecagens’.

É neste cenário fascinante que o navegador italiano Johan Padan, um Zé-ninguém maltrapilho, (fugindo da inquisição) e usando uma língua vulgar, distante da linguagem dos cronistas, conta como foi sua aventura entre os nativos do Novo Mundo, até se transformar no venerado “Filho da Lua”, que poderia muito bem ser nosso “Caramuru”.

Num domínio de corpo, voz, olhos, balbucios e percussão de impressionar, Júlio faz desfilar no palco não apenas personagens, mas ganhões alimentados pela pólvora destruidora e fogos de artifícios rasgando os céus americanos, usando apenas “como efeito especial” o ar condicionado e poucos refletores em cenas abertas.

A palavra dita e a não dita ganham corpo e atravessam o palco, o gestual é na medida da narrativa. A comédia é feita com espaços de tempo precisos como um bisturi a cinzelar o humor com cortes cirúrgicos. As caras e bocas não são baratas, usadas apenas para caracterizar os personagens.

Nesse catecismo histórico, no qual o épico e o popular se fundem, são apresentadas as figuras fundantes de nossas raízes ibero-americanas, compostas dos matizes da religião, do vocabulário e de nossa identidade cultural.

É uma pena que os artistas campinenses não estavam lá para compreenderem o que é uma carpintaria corporal e como se constrói uma partitura muscular. No entanto, os que ali estiveram deram gargalhadas nas quais até seus fígados se desintoxicaram. Vale a pena conferir. Não é por menos que a encenação encantou ninguém menos que a crítica acérrima Bárbara Heliodora.

Serviço

O espetáculo fica em cartaz até amanhã (20/11) no SESC Centro, às 20h. Como o espetáculo é financiado pela PETROBRÁS, os ingressos custam apenas R$ 10, 00 (inteira) e R$ 5,00 (estudante).

Grupo pessoense encena anos de chumbo da história brasileira



Coletivo de Teatro Alfenim, João Pessoa, encenou, na noite desta quinta-feira (18), no Centro Universitário de Cultura e Arte – CUCA – de Campina Grande, o espetáculo Milagre Brasileiro, uma peça experimental que abordou os “anos de chumbo” da Ditadura Militar, culminando com a decretação do AI 5. 

Para demonstrar o quanto de escabroso, opressor e degradante foi esse período que roubou a liberdade dos cidadãos brasileiros, o grupo usa como pano de fundo a peça Antígona, numa fusão entre o texto de Sófocles e de Brecht. 

Numa direção e desempenho dos atores que deixou a plateia, numa espécie de te arena, atônita vem à cena a heroína da tragédia grega que confronta a razão do Estado e desobedece às leis para realizar o funeral de seu irmão, morto em duelo fratricida.

A fim de mostrar a dureza, crueldade e a violência da ditadura, o diretor usa uma típica família brasileira: católica e conservadora para explicar como o golpe com “roupa de revolução” se instaura e proíbe que os subversivos e perturbadores da moral de dos bons costumes não destruam a nação.

E nessa “irracionalidade” na qual mães queriam enterrar seus filhos, mortos pelo Estado. As imãs clamavam por seus irmãos desaparecidos dos porões do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Patrícios estuprados, torturados por uma pátria madrasta que impunha seus corretivos àqueles que teimassem em sonhar, em fugir da bestialidade do governo dos generais-presidentes.

As cenas áridas e doloridas, com textos carregados de simbolismo dramático de deixar  Jung em dúvida e o Marques de Sades de olhos esbugalhados, foram entrecortadas por um humor acérrimo e não menos descarregado de sentido.

O silêncio da plateia era tão intenso que se ouvia o golpear dos arcos nas cordas do violino e do cello que acompanhavam a encenação. A música executada ao vivo dava um ar mais lúgubre ao salão do CUCA, transformando-o numa masmorra.

Os atores Adriano Cabral, Ana Marinho, Daniel Araújo, Daniel Porpino, Fernanda Ferreira, Paula Coelho, Verônica Sousa e a veterana Zezita Matos reviveram uma época que não deve ser esquecida em tempos de liberdade. O diretor, Márcio Maciano, soube ‘experimentar’ e fazer um excelente trabalho.


UEPB realiza congresso com palestras, mesas redondas e cursos científicos






Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) realizará de 22 a 24 de novembro,  no Centro de Convenções Raymundo Asfora (Garden Hotel), o   II Congresso de Pós-Graduação e Pesquisa e 17º Encontro de Iniciação Científica.

A abertura oficial do evento acontecerá às 18h30, no Auditório do Centro de Convenções, onde será realizada uma apresentação cultural e a conferência “Desafios da pós-graduação e da pesquisa no Brasil”, proferida pelo professor Anísio Brasileiro de Freitas Dourado, presidente do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (FOPROP). 

A programação do evento, que segue até a quarta-feira (24), envolve palestras, cursos e mesas redondas sobre os desafios da pesquisa e da pós-graduação em nível regional e nacional.
O congresso deverá reunir mais de mil participantes, entre professores e alunos de graduação e pós-graduação da UEPB e pesquisadores de outras instituições. 

Além da exposição “Relação Graduação-Pós-Graduação”, promovida pelo Centro de Ciências e Tecnologia, os estudantes poderão visitar uma mostra de 500 painéis, com trabalhos de Iniciação Científica e de pós-graduação da UEPB. 

Palestras e mesas redondas

Entre as palestras merecem atenção especial “Ciência e Tecnologia e a Encruzilhada do Desenvolvimento”, proferida pelo professor Olival Freire Jr. (UFBA) e “A Pesquisa sobre Cidades, Planejamento e Infraestrutura no Contexto do Desenvolvimento”, ministrada pelo professor Mauro Kleiman (UFRJ).  O professor Roberto Mauro Cortez Motta (UEPB) apresenta “Gilberto Freyre e a Ciência no Nordeste”.

Já entre as mesas redondas destacam-se “Pesquisa e Desenvolvimento no Semiárido”, presididas pelos professores Napoleão Esberard Beltrão (Embrapa) e Roberto Germano Costa (INSA), e “Pesquisa em Rede”, presidida pelo professor José Esteban Castro (Universidade de Newcastle – Inglaterra).

Cursos

Entre os diversos cursos oferecidos pelo congresso destacam-se três: “Redação Científica”, subministrado pelo professor Cidoval Morais de Sousa (UEPB); “Lógica e Operacionalização de Argumentos e Afirmações Científicas”, oferecido  pelo professor Lemuel Dourado Guerra (UFCG); “Projeto de Pesquisa”, ministrado pelo professor Marcílio Toscano Franca Filho (UEPB)


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quinta-feira, novembro 18, 2010

Roberth Gonçalves canta a trilha sonora de minha vida



Acompanhado de boa banda e uma estrutura de peso, o músico Roberth Gonçalves subiu ao palco do SESC Centro, na noite desta quarta-feira (17) e cantou as músicas da Legião Urbana.  Passando por diversos álbuns da banda brasiliense, os músicos interpretaram 20 canções.

Para mostrar que as composições de Renato Russo continuam atualíssimas, o espetáculo foi aberto com “Que País é Este”, acompanhada de “Ainda é Cedo”, “Pais e Filhos”,  “Vamos Fazer um Filme” e “Teatro dos Vampiros”. 

Após essa sequência, que animou o público e formou um coro, Roberth chama para uma palhinha o músico Júnior Legião.  Ele interpretou “Eduardo e Monica” e “Faroeste Caboclo”, acompanhado apenas por seu violão e a plateia.

Quando Roberth reassumiu o microfone, manda o som pesado de "Geração Coca-Cola" e “Dezesseis”, música pouco tocada, pelos intérpretes da Legião. Em seguida, vieram “Será”  "A Via Láctea", "O Mundo Anda Tão Complicado", "Por Enquanto", "Quando Você Voltar".

Com a participação do público o vocalista denota “Tempo Perdido”, emendada por “Há Tempos” e “Vento no Litoral”. O espetáculo foi finalizado Roberth cantando “Giz”.

Cantei o show inteiro.  Cada uma das músicas que foram interpretadas contavam um pouco de minha história, me arrepiei diversas vezes. Acho que uma cinemateca passou em minha cabeça. Cada música era uma longa metragem. Saí do SESC como se fosse o adolescente que descobriu a Legião na época das fitas K7.



sábado, novembro 06, 2010

Todos podemos ser fazendeiros, donos de ilhas e milionários


Tenho percebido um fenômeno engraçado: ferramentas do Orkut que simulam a vida cotidiana. Quase diariamente, recebo as atualizações de amigos virtuais usando esses aplicativos. São pessoas urbanas, sem nenhum vínculo com o meio rural, transformadas em fazendeiros. Outras, tornando-se donas de ilhas inteiras com direito a castelos à la Caras.

Recebi a atualização de uma amiga, em matéria de cozinha não consegue nem ferver uma água, que havia se tornado barista (especialista em café). Outra virou uma Jacques Léclair de saias e estava prestes a participar da Semana de Moda de Paris.

Estão, como diz Canclini, atrás de um “enfeite para comprar e decorar seu apartamento: cerimônias "selvagens", símbolos de viagens exóticas a lugares remotos. As praias ensolaradas e as danças indígenas são vistas de maneira igual. O passado se mistura com o presente, as pessoas significam o mesmo que as pedras”.

E nesse mundo, tem gente que se realiza nas passarelas, tornam-se magnatas do ramo imobiliário, administradores e clientes de resorts caribenhos, com águas quentes e límpidas, com cartões de crédito sem limite, para encher o guarda-roupa e mudá-lo a cada estação, cumprindo a profecia do consumo.

Nessa corrida, há os voyeurs: observando o que os outros estão usando, mesmo que virtualmente. Mas há também os exibicionistas: cada novidade que aparece vão experimentar e mostrar para os ‘vizinhos’ como são modernos, cults e pioneiros. Desbravadores com obstinado bom gosto para as coisas do mundo.

O jogo reproduz, inconscientemente, o mundo real. O consumo ostensivo é apenas um desses costumes. As pessoas consomem para mostrar que são diferentes dos outros porque têm poder de compra. As distinções sociais nascem daí. Uns se distinguem dos outros por consumir certos tipos de produtos e frequentam certos lugares.

Uma colega me disse esses dias: “eu usava muito a minifazenda, mas todo mundo agora usa, perdeu a graça”. É como ir a Camboinha. Antes, o ônibus não chegava lá, não tinha ‘farofeiro’. Era um ambiente cult. “Hoje é cheio de pobres e sujeira”. Não presta para os veranistas da alta roda. O jeito é ir a Pipa, Canoa Quebrada...

Sou de uma geração que tomar Liebfraumilch, o vinho da garrafa azul, era chique. Vinho importado. Tomei pela primeira vez em 1993. No ano seguinte, em sua primeira viagem de avião, um amigo tomou Almaden. Fiquei com inveja. Depois, descobrimos que não eram bons, vinhos vagabundos comparados aos Concha y Toro e Bordeaux, sem ao menos termos experimentado estes.

Enquanto nosso bolso não pode comprar os produtos na vitrine do mundo, enquanto não chegamos aos postos de trabalho cultuados pela mídia, só nos restam os aplicativos das redes sociais para fingir que somos chiques.

segunda-feira, novembro 01, 2010

O melhor remédio contra o preconceito é cultura


Não podemos tolerar o preconceito. É preciso eliminar a discriminação em nosso país. É vergonhoso que alguns bairristas espalhem o ódio Brasil afora. É lamentável o que a tuiteira @mayarapetruso escreveu: “Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”, escreveu a xenófoba.

Outro que demonstrou desprezo contra a população nordestina, quase 30% da população brasileira, foi o preconceituoso @kewenpantcho. Ele tuitou que “é tudo culpa dos nordestinos... seca eterna para vocês! Dilma presidente. Parabéns, povo burro”, atribuindo o fracasso do candidato José Serra aos nordestinos.

As fronteiras são arbitrárias. São delimitações territoriais e políticas, ou seja, são construídas e reconstruídas de acordo com as vontades dos governantes, não têm nada que ver com identidades. Veja a confusão que viraram os Bálcãs ou a velha Europa nos últimos 20 anos. Será que a importância de um povo é medida pela geografia?

O Nordeste, por exemplo, é uma invenção. Assim como a cultura paulistana. O paulistano conformou-se do caipira vindo dos interiores de São Paulo, Minas, Paraná, do imigrante pobre vindo da Itália, do Japão, da Espanha, de Portugal e dos diversos estados brasileiros. Não existe uma cultura paulistana pura. Eu vivi nessa babel barulhenta e apaixonante por cinco anos.

Não existe uma eugenia milenar de São Paulo ou de qualquer outra região. Sampa é a mistura. É uma polifonia de cores, sotaques e etnias. A terra da garoa assumiu a hegemonia agora. Antes, a elite intelectual era fluminense. O Rio de Janeiro ditava moda, costumes e falares. Os paulistanos assumiram a dianteira agora.

Atribuir a derrota de um candidato que deu cotovelada nos próprios parceiros a nós que estamos mais acima da zona temperada é um destempero sem tamanho. Nós não elegemos o paulistano da gema Paulo Maluf, o carioca Celso Pita, Valdemar Costa Neto, Fleury e uma lista enumerável nos últimos anos.

Somos nós os burros? Quem foi que elegeu Tiririca? Daqui a pouco seremos nós os responsáveis pelas enchentes que inundam do Vale do Anhangabaú à Zona Leste, pelo crime organizado, pela cracolândia, pelo uso demasiado de drogas dos filhos da classe média, inteligente e culta.

Espero que isso não fique apenas nas discussões do Twitter. Apenas espero que a justiça faça valer a lei 7.716, de 1989. A legislação deixa claro que “serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Não podemos aceitar a xenofobia. É preciso barrar essas declarações. Uma boa multa ou ver o sol nascer quadrado para algumas pessoas já é um bom corretivo. Não podemos responder a esses tipos de xenofobia com mais ódio. Ninguém é melhor que ninguém. Somos todos brasileiros e não vamos querer uma guerra civil por conta de pessoas de mentes doentes.

A lista de intelectuais e artistas nordestinos já é prova mais que suficiente para demonstrar o equívoco. Não precisamos aqui elencar todos nossos intelectuais que construíram e vêm reescrevendo a história de nossa nação. O melhor remédio contra o preconceito é cultura. Isso falta aos eugenistas do Centro-Sul.

A alegria venceu o preconceito



Fiz de tudo para não escrever sobre política na última semana. A Paraíba e o Brasil estavam passando por momentos de ódio velado e muita desfaçatez. Ativei-me a usar meu espaço para tratar de notícia e arte. Se bem que a verdadeira arte é sempre engajada.

No entanto, voltemos à política. É inegável que o ano de 2010 é emblemático. Elegeram Tiririca para a Câmara Federal no estado rico. Os candidatos discutiram religião como se estivéssemos em repúblicas islâmicas. O projeto passava pela fé e discussões como o bem e mal.

Nesta campanha, o clericalismo e o conservadorismo tomaram força no guia eleitoral. Candidatos foram às igrejas atrás de votos, em troca da própria decência. Aqui na Paraíba, a religião, tal qual na Idade Média, quis passar com seu rolo compressor por cima das liberdades de manifestação e culto.

Tentou-se assassinar a arte. Monumentos foram atribuídos ao mal, numa falta de conhecimento vista apenas no tempo da mais absoluta ignorância, na qual os indivíduos estavam envoltos numa nuvem escura, querendo afastar demônios.

O povo deu a resposta. Não se curvou ao preconceito. Não aceitou o retrocesso. Tanto no patamar nacional quanto no estadual disse “NÃO” à caça às bruxas. A calúnia, a baixaria e a mentira não tiveram a chance de brotar nessas terras. Brotaram flores amarelas, como combustível limpo para uma nova revolução.

Elegemos a primeira mulher para o Palácio do Planalto. Substituímos o presidente mais popular da história recente num contexto de crescimento econômico e de transformações sociais inéditas. O Brasil continuará com crescimentos anuais de 6% ou 7%. Esperamos que mais 32 milhões de pessoas (quase meia França) ascendam às classes A, B e C.

Aqui no estado, a ruptura do atraso e da perseguição começou quando as urnas responderam à truculência dos xiitas difamadores. Que o novo governador, saído da classe popular, traga para nosso estado as melhorias que o Centro-Sul já vem experimentado há anos.

A alegria venceu o preconceito. A arte vai ser restaurada. Não serão apenas sete obras que decorarão a capital, mas milhares delas por todos os recantos do estado. Serão Pombas da Paz, Porteiros da Esperança, Pedras da Transcendência, teatros reformados, pontos de cultura nos bairros, teatro de rua e diversas manifestações culturais.