Ele não teve coragem de dirigir-lhe a palavra. Apenas deu um leve sorriso no qual mostrou as borrachinhas do aparelho, passou os dedos entre os cabelos encaracolados e observou que ela usava um adesivo colorido de uma escola da moda, sobre a sobrancelha esquerda, o que indicava que havia passado no vestibular. Ela parou por um momento. De súbito, tirou o fone de ouvido como se a música tivesse parado.
Quando olhou para trás, observou que ele tinha uma tatuagem de um sol no tornozelo direito, quase encoberta por uma tornozeleirra de coro. Ela seguiu sua a caminha em volta do Açude Velho. Ela em direção horária; ele, anti-horária. Quando chegou em frente à Korpus, ela notou que ele a procurava entre as pessoas. Deram mais uma volta. Encontraram-se novamente em frente ao Bar do Cuscuz.
Dessa vez, os dois entreolharam-se e baixaram a vista de modo sincronizado. Olharam para trás e perceberam fizeram o mesmo movimento. Discretamente voltaram a olhar para frente. Ele tirou o celular do bolso e conferiu a hora: 17h35min. Daria outra volta. Precisava rever aquela loirinha de olhos verdes penetrantes. Passou a mão novamente entre os caracóis dos cabelos, como se quisesse penteá-los e sorriu.
Ela ficou imaginando como seria seu nome, o que fazia da vida, deveria ser do litoral, nunca o vira em Campina Grande. Aqueles cabelos com as pontas mais claras, a bermuda de tactel e a pele bronzeada, apontavam que deveria ser de uma cidade litorânea, mas qual? Como seria o sotaque? Como seria sua voz, o que fazia ali? Estava absorta em suas conjecturas, quando o telefone toca. Um amigo de cursinho para parabenizar pela aprovação no vestibular. Diminui o ritmo da caminha.
Ele ficou imaginando como seria o nome dela. Para qual o curso teria passado? Tinha cara de área de Saúde, Medicina? Odonto? Teria Medicina na Estadual? Será que ela se interessaria por um músico? Pensou tanto que nem percebeu que já estavam vizinhos ao Monumento à Bíblia. Ficou feliz em saber o nome, pois ouvira a dizer “quando eu vi Larissa Campos de Almeida, primeira entrada de Psicologia, dei um grito que assustei os moradores do meu prédio”.
Ótimo! Sabia seu nome e o curso. Quando terminou a ligação ele ainda a olhava. Dessa vez, aproximou-se e disse “oi”. Sem ter o que dizer mais, seguiu. Ela não sabia se era alegria de ter passado no curso que queria e nunca tinha recebido tantas ligações em um único dia em todos seus 18 anos e seis meses, sentiu-se imensamente feliz. Uma felicidade diferente. Será que, realmente, a vida dela estava mudando e ela nem percebeu?
Achou a voz mais bonita do mundo. Encantou-se. Não deu nem tempo de dizer “oi, posso saber seu nome?”. Seguiu a caminhada. Ao chegar perto de onde era a Caranguejo, olhou para o leste, por cima da Fiep, e viu uma lua linda! Era um sinal? Uma leve brisa soprou seu rosto e assanhou seus cabelos. Esqueceu-se até do cheiro ruim que vinha do açude. Ficou procurando-o na multidão, olhando de longe se via a bermuda branca.
Entre o Museu dos Três Pandeiros e o Monumento a Luiz e Jacson parou, estava exausta. Fingiu alongar-se enquanto esperava que ele passasse por ali. De costas para o Museu, sentiu sede. Percebeu que estava cansada e queria beber algo, esquecera-se de trazer dinheiro para comprar qualquer coisa. Olhou para o chão e viu uma sombra que bruxuleante se aproximava. Quando virou, era ele. Tremeu. Com um sorriso tímido e conquistador, novamente deu outro oi e perguntou se poderia oferecer-lhe um açaí. Não sabia de onde tinha vindo aquela ideia. E se ela pensasse que ele era um troglodita?
-- Ah, desculpe meus maus modos. Meu nome é Vinícius. Sou de Recife, vim passar o Réveillon aqui com a família, então aproveite para caminhar no famoso Açude Velho, afinal vou passar um bom tempo por aqui. Acabei de passar para Música na UFCG. Você é Larissa, ouvi você dizer. Não sabia de onde vieram tantas palavras de uma só vez.
Larissa aceitou o convite e os dois dirigiram-se para o Açaí. Vinícius olhou para as águas calmas do açude que refletia uma lua destorcida, enquanto uma garça voara e pousou próxima ao CUCA. Místico que era, ele olhou para a tatuagem, para lua e nos olhos verdes de Larissa, com a luz forte que vinha do poste, pareciam duas brilhantes esmeraldas. Ela sorriu o sorriso mais encantador que ele já vira em toda a vida.
Atravessaram a rua e sentaram-se à mesa próxima à calçada, não dava para ouvir nada, mas a conversa estava interessante. Falava de interesses comuns e de seus futuros nos curso escolhidos. A maior coincidência: ela era de Petrolina e tinha o mesmo sobrenome. A noite estava chegando, um carrinho de som passou tocando “Make You Fell My Love”, de Adele.
Nossa Zélio, que história! É verdade???
ResponderExcluirAi como eu queria um encontro assim.
Q lindo!!! tô curiosa pra saber no q vai dar essa linda história de "amor à primeira vista".
ResponderExcluirespero mesmo q tenha um final feliz...
Obs: curioso mesmo é saber como vc fez pra observar tudo isso!rsrsr. Ah, e se nao for verdade,aproveita pra terminar e fazer um final legal!:)
Curiosa para as "cenas dos próximos capítulos"... providencie, caro colega escritor. Beijos, Z.
ResponderExcluirMe peguei torcendo pelo beijo entre eles. Amo histórias de amor! 💖
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