sábado, janeiro 21, 2012

Uma foto e uma caminhada


Ela estava tentando enquadrar, num plano aberto, o novo Museu do Artista Popular e a antiga chaminé do Curtume dos Motta, Parque da Criança. Tentava registrar com sua câmera profissional como Campina Grande ainda registrava o antigo e o moderno. O curso de Arte e Mídia havia ampliado sua visão de mundo. Gostava de fotografar o cotidiano, mas de ângulos que outros não percebem. Depois montava e remontava essas imagens como se fossem peças lego; outras nem mexia, deixava como eram.

Aquela foto surgira por acaso. Na verdade, vinha de uma caminha frustrada no Parque da Criança. Tentou estacionar lá, mas não havia vaga. Pensou em ir para casa terminar o trabalho que começaram ainda no início das férias. Pegou o carro e, quando passava em frente ao Regina Coeli, teve a ideia da foto. A bela sombra que o novo prédio formava no espelho d’água era um convite. Precisava registrar aquilo, pois o sol começa a descer atrás da Decorama, pintando o céu de rubro.

Primeira ideia foi fotografar o monumento em contraplongé, vendo a cena de baixo, pegando a base de um dos cilindros com um prédio ao fundo, aquele que fica ao Lado do Parque da criança. Afastou-se um pouco do objeto e enquadrou perfeitamente a cena descrita no início do texto. Enquanto colocava a câmera no case, ouviu o chiar de pedrinhas atrás dela. Tomou um susto, receosa de ser um possível assaltante. Viu um sorriso amigável e encantador.

 “Assim como Niemeyer, gosto da leveza das curvas e seus contornos. Prefiro uma arquitetura curvilínea à coisa reta, ossuda e exageradamente alongada dos prédios neoclássicos do Catolé. Eles deixam todas as cidades com a mesma cara. Veja a diferença entre esse prédio e o da FIEP. Os dois são em concreto armado, mas esse tem charme, o charme das curvas, é como uma mulher com seus cabelos esvoaçantes, deixando o vento passar, nada estanque”. Ouvira aquilo como se fosse uma aula de estética.

Ela achou aquilo interessante, mesmo com alguns quilos a mais, achou charmosa a descrição das curvas. Sentiu-se uma obra de Niemeyer, pena não passar uma suave brisa para esvoaçar seus cabelos recém-lavados. Há tempos vinha se sentido um quadro de Fernando Brotero. Sabia que era certo exagero.  A verdade é que havia ganhado uns quilinhos, mas qual a mulher que não se acha gorda?  Apenas riu. Nossa! Se ele soubesse que aquelas curvas ficavam mais belas ao som do Derbake.

Ele disse que também gostava de fotografar e, em seus 28 anos, já havia viajado esse país e feito belas imagens, desde as terras ressequidas do semiárido aos rios caudalosos do Amazonas. Dessa vez, ela riu um sorriso tímido com o rosto ruborizado, se perguntassem se estava corada diria que era o reflexo de seu cabelo rubro. Um fotógrafo profissional, Caramba! Tinha um quê de encanto naquele homem; não sabia dizer o que era. Queria continuar conversando com ele. Recolheu a máquina. Ele percebeu o modelo e o fabricante.

Lá estava tentando enquadrar, num plano aberto, o novo Museu do Artista Popular e a antiga chaminé do Curtume dos Motta, Parque da Criança. Tentava registrar com sua câmera profissional como Campina Grande ainda registrava o antigo e o moderno. O curso de Arte e Mídia havia ampliado sua visão de mundo. Gostava de fotografar o cotidiano, mas de ângulos que outros não percebem. Depois montava e remontava essas imagens como se fossem peças de lego; outras nem mexia, deixava como eram.

 Aquela foto surgira por acaso. Na verdade, vinha de uma caminhada frustrada no Parque da Criança. Tentou estacionar lá, mas não havia vaga. Pensou em ir para casa terminar o trabalho que começaram ainda no início das férias. Pegou o carro e, quando passava em frente ao Regina Coeli, teve a ideia da foto. A bela sombra que o novo prédio formava no espelho d’água era um convite. Precisava registrar aquilo, pois o sol começa a descer atrás da Decorama, pintando o céu de rubro.

A primeira ideia foi fotografar o monumento em contraplongée, vendo a cena de baixo, pegando a base de um dos cilindros com um prédio ao fundo, aquele que fica ao lado do Parque da criança. Afastou-se um pouco do objeto e enquadrou perfeitamente a cena descrita no início do texto. Enquanto colocava a câmera no case, ouviu o chiar de pedrinhas atrás dela. Tomou um susto, receosa de ser um possível assaltante. Viu um sorriso amigável e encantador.

 “Assim como Niemeyer, gosto da leveza das curvas e seus contornos. Prefiro uma arquitetura curvilínea à coisa reta, ossuda e exageradamente alongada dos prédios neoclássicos do Catolé. Eles deixam todas as cidades com a mesma cara. Veja a diferença entre esse prédio e o da FIEP. Os dois são em concreto armado, mas esse tem charme, o charme das curvas, é como uma mulher com seus cabelos esvoaçantes, deixando o vento passar, nada estanque”. Ouvira aquilo como se fosse uma aula de estética.

 Ela achou aquilo interessante, mesmo com alguns quilos a mais, achou charmosa a descrição das curvas. Sentiu-se uma obra de Niemeyer, pena não passar uma suave brisa para esvoaçar seus cabelos recém-lavados. Há tempos vinha se sentindo um quadro de Fernando Brotero. Sabia que era certo exagero.  A verdade é que havia ganhado uns quilinhos, mas qual a mulher que não se acha gorda?  Apenas riu. Nossa! Se ele soubesse que aquelas curvas ficavam mais belas ao som do Derbake.

Ele disse que também gostava de fotografar e, em seus 28 anos, já havia viajado esse país e feito belas imagens, desde as terras ressequidas do semiárido aos rios caudalosos do Amazonas. Dessa vez, ela riu um sorriso tímido com o rosto ruborizado, se perguntassem se estava corada diria que era o reflexo de seu cabelo rubro. Um fotógrafo profissional, Caramba! Tinha um quê de encanto naquele homem; não sabia dizer o que era. Queria continuar conversando com ele. Recolheu a máquina. Ele percebeu o modelo e o fabricante.

Em outros tempos seriam rivais. Ele era Nikon; ela Canon. Riu e pensou que o tempo de “Eduardo e Mônica” já havia passado. Mesmo assim, quis descobrir se ela também gostava de magia e meditação. O que mais ela fazia? O mais velho era ele, e moreno, um bom contraste! Então, ela que seria sua “Eduarda”, mas com aquela forma de segurar a câmera e o jeito que a vira enquadrar a imagem ele deduzira que ela não era principiante. Mas o que dizia para puxar conversa e saber mais dela?

Pensou consigo mesmo que aquele cabelo vermelho e aquela tatuagem demonstravam que era uma pessoa de atitude. De personalidade forte. Gostava de mulheres de personalidade. Gostava de cabelos vermelhos e curvas. Verdade seja dita que, como fotógrafo, até tinha registrado magérrimas bonitas, mas preferia as curvilíneas.  Gostava até de suas mãos. Como adorava caminhar, percebeu que ela estava com roupas de caminhada. Ele frequentava Tenebra, gostava de Olinda, música alternativa, será que ela curtia esses lugares? Pensou, pensou e emendou:

“Campina é uma cidade movediça. Está sempre mudando. Lembro-me como se fosse hoje. Vim pegar meu cartão de inscrição do vestibular aqui, no Clube das Acácia, onde hoje fica o solar das Acácias. Aqui onde estamos era o antigo Complexo 5, sabia? Era uma visão interessante da cidade. Nossa, estou ficando velho, sentindo saudade do passado. É que Campina é a cidade do foi. Olhamos para um lugar e dizemos, aqui foi o Miúra, aqui era o Bar e Arte, aqui era isso era aquilo”. Não sabia por que tinha dito aquilo, mas fizera efeito.

Ela achou aquilo lindo. Um homem que fala apenas de academia, de carro... e, principalmente, gosta de curvilíneas. Era interessante pensar que ela não estava acima do peso, era curvilínea como as obras de Niemeyer. Gostava disso, soava charmoso.

 Sem ter muito que falar, disse que sabia sobre o Clube das Acácias, pois seu pai era maçom e falava muito desse lugar. Aproximaram-se da borda do Açude e sentaram-se. Não houve convite para sentar-se. Foi automático. A primeira coisa que olhou, para disfarçar o olhar, foi para seu tênis preto. Então disse: “A fim de uma caminhada?”.

Ela foi até ao carro, colocou a câmera no porta-malas. Ao fechá-lo, ele viu o adesivo do Curso de Arte Mídia. “Sabia que era minha primeira opção de curso, mas acabei fazendo Direito, meus pais, sabe como é... Depois que me graduei descobri que não é isso que queria fazer, meu lance era fotos. Campanhas publicitárias, fotografia de aventuras. Isso me deu dinheiro, uma vida tranquila e meus pais desencanaram e me deixaram ser feliz. É isso que quero: apenas ser feliz.”

Eles não sabiam para que lado começar, se horário ou anti-horário, pouco se lhes dava, o que mais importava mesmo era o que conversariam durante o percurso.

 A coisa que mais chamou a atenção dela foi a forma carinhosa e rápida que ele a afastou da ciclovia para que um senhor não a atropelasse, estavam em frente ao Instituto São Vicente de Paulo, onde estudou sua infância inteira.

 Ele a convidou para conhecer a fonte redonda na qual atirava pedrinhas, fingindo serem moedas, e fazia os pedidos mais loucos, por exemplo, pediu quatro vezes para ser Jiraya, o ninja. Lembrou-se também, na quarta série, quando se apaixonou pela primeira vez e roubou uma margarida do jardim. Quando ia entregá-la a sua amada, Irmã Bernadete, achava que esse era seu nome, repreendeu-o, o que o fez paralisar. Riram bastante. Estava encantada com aquele homem. Nossa, no primeiro encontro ele já havia contado tantas coisas sobre ele.

Já era noite. Olharam para uma aureola iluminada de uma santa, que não sabiam bem quem era, e leram os dizeres em uma plaquinha: “Sua chegada nos alegra; sua presença nos fala de Deus”. Ele achou aquilo tudo muito metafórico. Continuaram caminhando.

Quando chegaram à lateral do Parque da Criança perceberam, automaticamente, uma foto que nunca viram: a foto do Museu com o viaduto como pano de fundo. Aquilo era mais metafórico que a plaquinha.

Será que isso queria dizer alguma coisa? Um viaduto é uma passagem, uma ponte. O que essa ponte estava a dizer para os dois: passar por uma transformação em suas vidas? Trocaram telefones e decidiram se encontrar. Como não tem filme do Godard passando, o Parque da Criança, local das caminhadas dela,  pode ser um bom local.

Um comentário:

  1. Nossa amigo...estou encantada com o texto.

    Muito obrigada pelo carinho.

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