segunda-feira, novembro 01, 2010

O melhor remédio contra o preconceito é cultura


Não podemos tolerar o preconceito. É preciso eliminar a discriminação em nosso país. É vergonhoso que alguns bairristas espalhem o ódio Brasil afora. É lamentável o que a tuiteira @mayarapetruso escreveu: “Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”, escreveu a xenófoba.

Outro que demonstrou desprezo contra a população nordestina, quase 30% da população brasileira, foi o preconceituoso @kewenpantcho. Ele tuitou que “é tudo culpa dos nordestinos... seca eterna para vocês! Dilma presidente. Parabéns, povo burro”, atribuindo o fracasso do candidato José Serra aos nordestinos.

As fronteiras são arbitrárias. São delimitações territoriais e políticas, ou seja, são construídas e reconstruídas de acordo com as vontades dos governantes, não têm nada que ver com identidades. Veja a confusão que viraram os Bálcãs ou a velha Europa nos últimos 20 anos. Será que a importância de um povo é medida pela geografia?

O Nordeste, por exemplo, é uma invenção. Assim como a cultura paulistana. O paulistano conformou-se do caipira vindo dos interiores de São Paulo, Minas, Paraná, do imigrante pobre vindo da Itália, do Japão, da Espanha, de Portugal e dos diversos estados brasileiros. Não existe uma cultura paulistana pura. Eu vivi nessa babel barulhenta e apaixonante por cinco anos.

Não existe uma eugenia milenar de São Paulo ou de qualquer outra região. Sampa é a mistura. É uma polifonia de cores, sotaques e etnias. A terra da garoa assumiu a hegemonia agora. Antes, a elite intelectual era fluminense. O Rio de Janeiro ditava moda, costumes e falares. Os paulistanos assumiram a dianteira agora.

Atribuir a derrota de um candidato que deu cotovelada nos próprios parceiros a nós que estamos mais acima da zona temperada é um destempero sem tamanho. Nós não elegemos o paulistano da gema Paulo Maluf, o carioca Celso Pita, Valdemar Costa Neto, Fleury e uma lista enumerável nos últimos anos.

Somos nós os burros? Quem foi que elegeu Tiririca? Daqui a pouco seremos nós os responsáveis pelas enchentes que inundam do Vale do Anhangabaú à Zona Leste, pelo crime organizado, pela cracolândia, pelo uso demasiado de drogas dos filhos da classe média, inteligente e culta.

Espero que isso não fique apenas nas discussões do Twitter. Apenas espero que a justiça faça valer a lei 7.716, de 1989. A legislação deixa claro que “serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Não podemos aceitar a xenofobia. É preciso barrar essas declarações. Uma boa multa ou ver o sol nascer quadrado para algumas pessoas já é um bom corretivo. Não podemos responder a esses tipos de xenofobia com mais ódio. Ninguém é melhor que ninguém. Somos todos brasileiros e não vamos querer uma guerra civil por conta de pessoas de mentes doentes.

A lista de intelectuais e artistas nordestinos já é prova mais que suficiente para demonstrar o equívoco. Não precisamos aqui elencar todos nossos intelectuais que construíram e vêm reescrevendo a história de nossa nação. O melhor remédio contra o preconceito é cultura. Isso falta aos eugenistas do Centro-Sul.

Um comentário:

  1. Apesar de tudo, acho que esses twiteiros prestaram um serviço ao povo brasileiro, revelando o preconceito velado de muitos. Suas afirmações abriram espaço pra discussão e pra reflexão e, por causa delas, o Brasil inteiro discute preconceito e se questiona sobre discriminação, xenofobia, preconceito. O que aconteceu gera a possibilidade de esclarecimento e desconstrução de mitos maléficos. Então, muito obrigado Mayara e Cia. por revelarem a face escura da lua e, com sua ignorância, terem trazido a tona o que antes estava escondido, disfarçado.

    ResponderExcluir