sexta-feira, novembro 19, 2010

Grupo pessoense encena anos de chumbo da história brasileira



Coletivo de Teatro Alfenim, João Pessoa, encenou, na noite desta quinta-feira (18), no Centro Universitário de Cultura e Arte – CUCA – de Campina Grande, o espetáculo Milagre Brasileiro, uma peça experimental que abordou os “anos de chumbo” da Ditadura Militar, culminando com a decretação do AI 5. 

Para demonstrar o quanto de escabroso, opressor e degradante foi esse período que roubou a liberdade dos cidadãos brasileiros, o grupo usa como pano de fundo a peça Antígona, numa fusão entre o texto de Sófocles e de Brecht. 

Numa direção e desempenho dos atores que deixou a plateia, numa espécie de te arena, atônita vem à cena a heroína da tragédia grega que confronta a razão do Estado e desobedece às leis para realizar o funeral de seu irmão, morto em duelo fratricida.

A fim de mostrar a dureza, crueldade e a violência da ditadura, o diretor usa uma típica família brasileira: católica e conservadora para explicar como o golpe com “roupa de revolução” se instaura e proíbe que os subversivos e perturbadores da moral de dos bons costumes não destruam a nação.

E nessa “irracionalidade” na qual mães queriam enterrar seus filhos, mortos pelo Estado. As imãs clamavam por seus irmãos desaparecidos dos porões do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Patrícios estuprados, torturados por uma pátria madrasta que impunha seus corretivos àqueles que teimassem em sonhar, em fugir da bestialidade do governo dos generais-presidentes.

As cenas áridas e doloridas, com textos carregados de simbolismo dramático de deixar  Jung em dúvida e o Marques de Sades de olhos esbugalhados, foram entrecortadas por um humor acérrimo e não menos descarregado de sentido.

O silêncio da plateia era tão intenso que se ouvia o golpear dos arcos nas cordas do violino e do cello que acompanhavam a encenação. A música executada ao vivo dava um ar mais lúgubre ao salão do CUCA, transformando-o numa masmorra.

Os atores Adriano Cabral, Ana Marinho, Daniel Araújo, Daniel Porpino, Fernanda Ferreira, Paula Coelho, Verônica Sousa e a veterana Zezita Matos reviveram uma época que não deve ser esquecida em tempos de liberdade. O diretor, Márcio Maciano, soube ‘experimentar’ e fazer um excelente trabalho.


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