sexta-feira, março 26, 2010

Katarina Nepomuceno emociona no lançamento do V Comunicurtas


A cada dia, me apaixono mais pela voz de Katarina Nepomuceno. Ontem, à noite, no lançamento da V Edição do Comunicurtas – Festival Audiovisual de Campina Grande – tive a certeza que tenho motivos de sobra para o encantamento  pela voz camaleoa  do nosso “Rouxinol da Borborema”.

Já a ouvi e vi em  diferentes performances, mas no palco do Cine Teatro do SESC Centro, com uma luz intimista,  a qual realçava sua voz polifônica e chamava nossa atenção para ela,  foi totalmente diferente.  Aquele cenário bucólico:  três banquinhos, uma mesa,  garrafas e copos, lembrando  um bar simples, me remeteu a duas histórias diferentes. A primeira:  uma cena de Piaf – Um hino ao Amor, quando o pai de Edith descobre que ela é uma grande cantora. A segunda:  a performance  magistral de Ella Fitzgerald, no Festival de Montreux (Suíça), em 1969, no auge da fama, mas de uma  generosidade ímpar  com a platéia.

Katarina ainda tem a timidez singela da Piaf do início de carreira e capacidade de dar vida a  cada nota desferida, assim como  Ella. Nosso rouxinol é uma jóia rara que está sendo lapidada.  Isso ficou claro, ontem, ao cantar “Lamento cego”, de Jackson do Pandeiro. Acompanhada pelos violões de Toninho Borbo e Jonathas Falcão, a cantora lembrava as grandes intérpretes do Blues ou as divas do Jazz. O coração e a alma eram tão  utilizados quanto  à voz para homenagear o Rei do Ritmo.

Ela será,  como bem disse Falcão, “a nova estrela da Música Popular Brasileira”. Não é por outra coisa, senão pela bela voz de Katarina,  que meu amigo Oliveiros Freire achou que era Maria Rita a intérprete de Cometer, música de a VALSA DE MOLLY, banda de nossa camaleoa da voz. 

Jackson do Pandeiro teria ficado muito contente com o “bebops” e vocalizações harmoniosas de Katarina. Entre cordas e lamentos bem elaborados o “Roxinol da Boborema”  conquistou e arrancou gritinhos da platéia. Para provar que estava afinada com o cantor  de Sebastiana, ela  ainda fez os backvocals de Chiclete com Banana, executada por Borbo, e 17 na Corrente, interpretação de Falcão.

Como comentava com Flaw Mendes, artista plástico campinense, foram muito interessantes as apresentações musicais do lançamento do Comunicurtas.  Sei que este entrosamento da música com a Sétima Arte teve o toque mágico  da produtora Cultural Moema Vilar e do idealizador do Festival, André da Costa Pinto.

Vida longa à boa música paraibana! Vida longa ao Festival do Audiovisual de Campina!  Que o Comunicurtas continue aglutinando as diferentes artes e que o público de nossa cidade, da Paraíba e do Brasil prestigie  este festival que acontece de  23 a 27 de agosto.

E para aqueles que ficaram com um gostinho de quero mais da voz de Katarina é só acessar o myspace dela:  www.myspace.com/katarinanepomuceno. Já quem quiser saber mais sobre o Comunicurtas é só conferir os detalhes em www.comunicurtas.com.br e descobrir quais a mostras realizadas em agosto e como inscrever seus vídeos.




quarta-feira, março 17, 2010

Roupas ritualísticas e a invisibilidade dos não-cidadãos


Em uma palestra para alunos do ensino médio de Campina Grande-PB, em  2007, o professor Luiz Barco, titular da ECA – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – disse que Deus não deveria ter dado ouvidos para os médicos. Na ocasião todos riram. Ele reclamou do Criador em ter dado a audição a todos, já que alguns “acabavam se tornando médicos e não ouvindo os pacientes”, suas dores, seus nomes.

Antes de ontem à noite, cheguei à conclusão que o Criador não deveria ter dado olhos aos homens e mulheres de jaleco: eles não vêem as pessoas. É como se elas (pessoas simples) fossem opacas ou transparentes. Explico. Estava na recepção do Hospital Reginal, esperando uma colega que tinha sido picada por um escorpião, e vi como o “pessoal de branco” fingia não ver aqueles infelizes que ali agonizavam. Não que eles tivessem que atender de imediato e resolver seus problemas. O que me incomodou foi a forma como eles, médicos-professores de uma respeitada instituição (e seus alunos ) não olhavam para as pessoas nem de relance. Ignorava-os por completo. Esbarravam quase, se elas não saíssem da frente...

Mas, alguns de vocês podem estar perguntando o porquê de eu trazer a fala de Luiz Barco e história de alunos para discutir sobre a “invisibilidade” social. Aí é que está o xis da questão. É que naquele ano, ouvindo o professor, estavam estudantes secundaristas, com sonhos e dúvidas do vestibular. Ontem   eram os futuros médicos  lá no hospital e, por sermos, nós “transparentes” não se deram ao luxo de ao menos observar que eu os analisava. Não que fiquei triste ou magoado por isso. A revolta era com o não reconhecimento daqueles anônimos. 

Voltemos, pois, à questão da opacidade social. Segundo o sociólogo Jessé Souza, em “A gramática da desigualdade brasileira”, a diferença social brasileira tem a ver com a Revolução Burguesa e com ideologia passada para toda sociedade racional e  ocidental. Eu explico. Para ele, a partir dessa filosofia o sujeito passou a ser respeitado pela seguinte tríade: capacitação, salário e posição, não mais pelos títulos nobiliárquicos. Quem não fosse capacitado, não teria um bom salário, logo, não ocuparia uma posição importante na escala social. Dessa forma, o reconhecimento, como indivíduo e sujeito social, viria da tríade.  

Já os “não-capazes”, eram alijados, considerados inaptos para o processo, não eram seres racionais, eram primitivos, como os indígenas, ou atrasados, a exemplo de sociedades arcaicas, como as orientais.  Não chegavam ao topo porque não queria, eram uns preguiçosos. Também não tinham ambição. Por isso não se enquadravam na nova sociedade, racional, organizada e capitalista. Esse não-reconhecimento do outro serviu para justificar a desigualdade e classificar as pessoas em cidadãos e não-cidadãos, a ralé, os caipiras, os desordeiros, os beradeiros, os de baixo e tantas outras denominações. O pior de tudo é que isso foi sendo “naturalizado”, como a idéia do sol nascer toda manhã e, à noite, surgirem as estrelas. Ninguém questionou.  Da tríade, capacitação, salário e posição surgiram as profissões reconhecidas pela sociedade.  E as profissões dos “intocáveis”.

Os bons partidos eram os que agregavam os valores trinos. Assim sendo, os outros são apenas corpos, mão-de-obra, ou proletários, que têm sua prole (filhos), operários no futuro. Seres invisíveis e sem nome, o porteiro, a empregada, o faxineiro, o pipoqueiro, o engraxate, o gari. Já os de destaques são “Doutor Fulano de Tal”, como nome e sobrenome. Essa diferenciação é bem menos pelo que é dito do que é demonstrado.  Um meneio de cabeça, uma subserviência...

Pois bem, é com base no exposto acima que os médicos ou as pessoas que vestem “roupas rituais do cargo” se sentem reconhecidos socialmente. Primeiro, ficou no inconsciente coletivo que eles têm quase controle sobre a morte, pois curam as doenças. Daí a se sentirem “quase deuses” foi um pulo. Claro que existem bons profissionais que respeitam os seres humanos, a exemplo de Zilda Arns (criadora da Pastoral da Criança) Dráuzio Varella (voluntário no Carandiru, maior prisão da América Latina desativada em 2002)  ou tantos anônimos que compõem  o exército dos Médicos Sem Fronteira.

terça-feira, março 09, 2010

Campina Grande: novo Centro de Arte, Cultura e Terapia Alternativa


Para quem procura qualidade de vida, foi inaugurado, no último sábado (06/03), um ambiente que pretende suprir essa necessidade buscada fora de Campina Grande. O CREATIVE reúne no mesmo lugar arte, cultura e terapias alternativas.

O novo espaço das artes está ao lado SESC Centro, a uma janela do viaduto Elpídio de Almeida e com uma vista panorâmica do Hotel do Vale ao CEDUC II. A academia vai oferecer cursos de línguas (Português, Inglês e Espanhol), dança ( salão e ventre), música (violão clássico e popular, técnica vocal e musicalização infantil), percussão, yoga, artes plásticas e teatro.
Serão ministrados, ainda, o Curso Técnico de Música, pioneiro em Campina Grande, e Curso Preparatório de Música para o Vestibular (teoria e performance), o que faz do local um verdadeiro paraíso das artes.
Além dos cursos e oficinas, o novo templo das artes ofertará uma gama de serviços como: acupuntura, fisioterapia, atendimento psicológico, massagem Ayurvédica (massagem indiana relaxante) e Reiki (terapia japonesa baseada na canalização de energia).
O coquetel de lançamento contou com a presença de artistas campinenses e do coordenador do Curso de Música da UFCG, Carlos Alan Peres. Estive no evento e adorei a proposta apresentada por minha amiga, a dançarina e atriz Mayara Silveira. Se o Creative mantiver a boa energia que emanava na festa, contagiará a cidade em poucos meses.
A solenidade foi marcada por Dança do Ventre, com uma performance eletrizante da dançarina e professora Luciana Nóbrega, apresentação de Tina Dias, acompanhada pelo violão de Adriano Firmo, além do espetáculo de saxofone e uma minioficina de salsa, ofertada por Roberto Almeida, coreógrafo do Grupo Acauã da Serra.
Se você busca expandir seus conhecimentos ou melhorar a qualidade de vida, vá até ao Creative, Centro de Arte, Cultura e Terapia Alternativa.

CONTATOS
Rua Manoel Elias, nº 30 - (antigo Espaço Equilibrar) Próximo ao SESC CENTRO
creative.contato.cg@gmail.com
www.centrocreative.blogspot.com
83 8808-9667 - 83 3058-4211

sábado, março 06, 2010

Foto expressa e filas de banco


Para fazer a inscrição em processo seletivo com data limite para ontem (05/03) eu precisava realizar duas tarefas opostas: tirar fotos e fazer uma transação bancária. Fui informado por um colega que tinha que ser no guichê, não podia ser no caixa eletrônico. A fotografia é um processo expresso; o outro, anda a passos de tartarugas. Usar o serviço bancário é um exercício de paciência. Já o serviço de foto express é uma mão na roda.

Sou de uma época na qual para se ter fotos 3x4 demoravam-se dias. Na cidade que nasci, era preciso que o fotógrafo completasse o filme, geralmente de 36 poses. Depois vinha a Campina e “revelava” os negativos. E tinha mais, não sabíamos se o filme ia queimar. Hoje, vamos ao Calçadão, somos fotografados por belas moças, que nos mostram como ficamos ou se queremos outro clique. Em minutos estamos com nossos “retratos”, retocados pelo Photoshop.

Abençoados os tempos modernos, tempos de manipulações digitais e redirecionamento do espaço e do tempo.

No entanto, nem tudo é assim. Nas peças publicitárias, temos a impressão que os bancos são instituições perfeitas e organizadas, na qual a política da eficiência foi aplicada da melhor forma. A verdade é bem diferente. Tive que ir ao Banco Real (a agência da Rua João Pessoa, Campina Grande) lá constatei que os bancos são atrasados e clientelistas.

Cheguei na hora da abertura, às 10h, mesmo no empura-empurra e cotoveladas. É incrível nossa tolerância à fila e conformação a essa máquina de moer tempo e gente. Pois bem. Fiquei sentando, depois de pegar a senha número 0015. Abri um livro que carregava comigo (boa tática de enfrentar fila) e dei continuidade à leitura.

O tempo, este monstro que nos carrega às costas, não passa rápido, quando estamos em um banco. A cada toque da campainha do display eu levantava a cabeça e nada do meu número. Achei estranha aquela contagem, pois apareciam números após 0515, descubro que são os “atendimentos preferenciais”. Atendo a esperteza capitalista, aliada ao clientelismo: para que empresas tenham atendimento mais rápido “contratam” idosos para fazer o trabalho de office-boy. Eles não pegam fila. Jogada de mestre!

Na outra ponta do atraso do sistema bancário estão funcionários promíscuos, amigos de moças bonitas ou de clientes com “boas contas”, furam a fila e impedem que outros clientes usem o sistema, vendido como moderno e eficiente. Os não-preferenciais ficam sentados com papéis enumerados e cara de trouxa vendo as belas e os ricos serem atendidos primeiro.

Depois de esperar por mais de meia hora, um dos clientes reclamou da “sacanagem que estão fazendo com a gente. Ficam colocando gente na nossa frente, já vi passar mais de cinco”. Ele se retirou dizendo que ia fazer uma denúncia, saiu para a sala do gerente. Fui atendido. Saí concordando com tudo que aquele senhor estava falando e comprovando que a eficiência bancária é uma falácia, apenas jogo de marketing.

Foto expressa é um fato, banco eficiente é uma piada de mau gosto. O nosso sistema bancário ainda é muito atrasado. Se a fotografia está à base do clique o sistema bancário caminha a passos das tartarugas de Galápagos.

segunda-feira, março 01, 2010

Narciso acha feio o que não é espelho


Esses dias, estávamos (uma amiga, o namorado, a vizinha deles e eu) caminhando às margens do Açude Velho, a nova Meca da geração saúde de Campina Grande, quando o assunto partiu para a estética. Segundo um dos caminhantes, nunca na História tivemos tantas informações, armazenadas e manipuláveis das mais diversas formas, porém, a beleza jamais tinha assumido tamanho destaque em detrimento da inteligência.

Eu, que aderi à pratica da caminhada há três meses e meio, fi-lo muito menos por questão de me tornar um  “homem sarado” (já que estou alguns quilos abaixo e não possuo a ambição de ser fisiculturista). Iniciei a atividade por recomendações médicas, devido à hipertensão arterial, herança genética combinada ao sedentarismo. Minha amiga aderiu à atividade para acompanhar o namorado, este com índices glicêmicos altos, e sua vizinha quer perder peso.

Depois de completar as voltas necessárias, começamos uma  conversa sobre estética versus inteligência.   Nesse instante,  minha amiga disse que  não se achava bonita, mas também não era a pessoa mais feia do mundo e completou: “Acho que quem olha para mim não se sente agredido por  minha beleza”. Nós rimos e seguimos viagem.

Vejam só a que ponto chegamos: a sociedade nos impõe padrões estéticos bem estranhos. A ideologia da beleza nos quer iguais, vendendo modelos que não conseguimos atingir, mesmo que passemos horas “malhando” nas academias, esses templos dedicados à Santa Estética, ou que tomemos os mais diversos “suprimentos alimentares”.

Uma pessoa que não se enquadra no padrão de beleza vendido na mídia, agride porque o olho daquele que observa a massa busca uma homogeneidade. Por isso que é preciso padronizar cabelos, peles, roupas e outros acessórios.  Aqueles que não se enquadram nesse protótipo são agressores, pois incomodam às retinas acostumadas a arquétipos (construídos pela indústria cosmética) que os vende como se fossem tão originais quanto o Natureza. A diferença agride, porque Narciso acha feio o que não é espelho. E entre limpar o espelho e mudar o ângulo da visão, é melhor refinar os objetos observados.

É um mau gosto ser diferente, um “descuido” ter uns quilinhos a mais, um desleixo ter cabelos cacheados ou mesmo um problema de saúde ter uma pele daquele outro jeito. Valem-se da máxima “saúde é beleza”, logo, quem não é belo é doente. Exemplo disso é vocabulário dos amantes do “fitness”. Eles são sarados (saudáveis), porque malham (forjam) seus corpos, esculpem (como se fosses estátuas gregas), mesmo que essas máquinas sejam projetadas à base de anabolizantes.

E quem não se molda na academia, esculpe-se nas clínicas de cirurgias plásticas. Afinal de contas, feiura tem remédio:  plastifique-se. A recuperação é rápida e o valor da reforma pode ser dividido nos cartões de crédito. É só ter cuidado ao escolher o médico, senão pode-se morrer durante a lipoaspiração, mas pelo menos se chega recauchutada no céu, ou não.

Os que não rezam no catecismo da Santa Estética, são raquíticos (sofrem de raquitismo), magricelas que não conseguirão vencer nem a si mesmos, uns perdedores com pouca chance de ter sucesso. Ou gordos (preguiçosos e descuidados).

Se levarmos em conta a tese de minha amiga, além de agressor eu sou um pária. Estou vendo a hora ser enquadradado no “estatuto da beleza”, como um vândalo, desordeiro que deve ser banido da sociedade padronizada, pois coloco em risco o modelo vigente.