Só existe uma coisa mais enigmática em dias chuvosos do que sapo: vendedores de guarda-chuva. É incrível a sagacidade desses profissionais. Nos dias de céu límpido e calor sufocante, não se vê esses seres misteriosos. Mas é só o tempo mudar e nuvens carregadas aparecerem ao leste para eles surgirem junto.
Eu suspeito que esses mercadores sejam extremamente atentos à previsão do tempo nos noticiários, anotando com precisão quando vai chover, o momento e a duração da chuva, e quando ela vai parar. Com todos os dados conferidos, correm a reservar o número exato de dispositivos que irão vender e mãos à obra.
Enquanto a chuva não vem, ficam ali camuflados no meio da multidão, à espera das primeiras gotas. É São Pedro ligar o chafariz celeste, pronto! Inacreditavelmente surgem com dezenas de modelos, tamanhos e formatos, como se os guardassem na cartola. São verdadeiros mágicos da rua. Em um malabarismo incrível, vão anunciando os modelos e os valores.
Àqueles que saíram de casa sem os dispositivos de proteção restam apenas duas alternativas: tomar um belo banho ou ceder aos encantos dos vendedores e adquirir um guarda-chuva que, provavelmente, esquecerão no primeiro destino.
De uma hora para outra, as ruas de cidades chuvosas se transformam em uma espécie de Londres, repletas de guarda-chuvas, e os moradores a andarem apressados embaixo de suas tendas ambulantes.
O mais engraçado de tudo é que parece que os mercadores das chuvas carregam a quantidade exata de dispositivos para a duração da chuva. Acabada a chuva, fim do estoque. Retornam no dia seguinte junto com a chuva. Se por ventura fizer bom tempo, ficam acompanhando a meteorologia, formando um novo banco de dados e contatando fornecedores.
Os mercadores torcem para que os compradores não levem tão a sério a previsão do tempo e voltem a comprar mais um dispositivo. Eu conheço pessoas que, por não acreditar na meteorologia, tiveram que adquirir três guarda-chuvas na mesma semana. Depois da chuva, um deles foi esquecido no metrô.
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