Como todo mundo nascido no interior no fim da década
de 1970, o contato com o telefone não era frequente. Ainda na década seguinte o
aparelho estava presente nas casas de uma pequena elite. Os orelhões eram raros.
Em uma cidade como a minha, com menos de 10 mil habitantes, não havia telefone
público nas ruas. Isso só foi acontecer na década de 90.
Nas casas onde
havia telefone (mais cara que um carro, pois a linha era comprada como ação da
Telebrás e demorava horrores para chegar), havia uma sala específica para o
aparelho. Existia uma mesinha, acompanhada com cadeira de veludo e uma agenda
com os poucos números anotados. No disco do aparelho, uma trava que não permitia
ligações desnecessárias. A chave era escondida.
Os postos de serviços telefônicos eram a salvação dos
mais pobres. As ligações eram avisadas por mensageiros. Ali faziam e recebiam ligações
e pagavam por minuto. Os diálogos eram mantidos nas cabines de conversa quase
em sussurros. Eram rápidos, pois muitos também queriam conversar com os
parentes distantes. Falava-se o essencial e baixíssimo.
A intimidade das conversas se assemelhava aos temas
tratados nos confessionário. Ninguém bradava aos quatro ventos o que fazia ou
deixava de fazer, muito menos as intimidades. Vontade de falar sobre isso com
os esposos/as, namorados/as e noivos/as ausentes não faltava, mas eles sabiam
que estavam em público.
Com a privatização do Sistema Telebrás, em 1998, o
telefone se popularizou e as pessoas perderam a noção do ridículo. Nos dois
anos seguintes, já havia pessoas com celulares gritando aos quatro ventos o que
faziam ou deixavam de fazer. Depois os aparelhos e mal educados foram tomando a
praça, a igreja, os cinemas e as salas de aula.
Hoje, contam suas intimidades, aos berros, nos
bancos, nos transportes públicos, nos corredores das universidades. Não há mais
controle. Já ouvi e vi esses finos donos do mundo atenderem seus aparelhos nas
salas de cinema, no teatro e nos templos, como se fosse o mais corriqueiro dos
comportamentos sociais.
Esses dias voltando de minha caminhada, quando passei
por uma rua no centro de Campina Grande e uma jovem conversava (possivelmente com
seu namorado) e narrava detalhes do que fariam quando ele chegasse.
Na sacada do terceiro andar do seu prédio ela
descrevia as preliminares com a maior naturalidade. Ia falando com uma voz sensual que parecia o telessexo de antigamente. Em minha
frente, para um jovem rapaz e ficou a ouvir aquela conversa. Ao sair do local,
tive a suspeita que o rapaz começou se acariciando prestando atenção àquele
coito verbal.
A jovem continuou a história como se nada
acontecesse. Uns 300 depois metros eu ainda a ouvia falar. Ria alto e chamava
o interlocutor de safado com a mesma naturalidade que fazia quando estavam entre
quatro paredes. Para ela a rua era sua cabine prive; a sacada o tempero da
relação.
Lendo o seu texto bateu saudades da Telpa aqui em CG... Mas, além desse problema que você citou há ainda um outro: qdo o povo, no ônibus, usa o celular como sendo um carro de som e todos os passageiros são obrigados a ouvir uma música que, na maioria das vezes, é incômoda.
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