quarta-feira, março 13, 2013

Para que todos sejam respeitados e ninguém venerado





Todos já tivemos ataques de raiva. A revolta é algo que sentimos quando somos ou vemos outros serem maltratados ou machucados. Perante uma ofensa, injúria, atentado físico ou moral, a revolta se transforma em puro estado de ira. Não que devamos fazer como William Foster (personagem de Michael Douglas em Um dia de fúria) e mandar bala para tudo que é lado. É preciso transformar a ira em argumentos.

Essa semana, as divindades me enviaram duas criaturas para testar minha paciência. Uma por questão religiosa; outra, por ignorância em relação à orientação sexual. O que fez aumentar minha indignação é que as boas almas usaram o Facebook para expressarem sua “verdade” da forma mais preconceituosa possível.

O opositor que expressa seu argumento em bases lógicas e legais pode até provocar nossa ira. Porém, quando o raciocínio se baseia em dogma religioso ou numa doutrina que deve ser aceita sem contestação, a revolta aumenta. Para ele, nossos argumentos não passam de desvio da “Verdade” ou equívocos propositais.

Precisamos dizer a pessoas assim que no Brasil, teoricamente, o Estado é laico e plural étnico e culturalmente falando. Assim sendo, a vida e o comportamento social não podem ser explicados a partir de um livro sagrado. Não é uma “sagrada escritura”, seja qual for a corrente teológica, que deve orientar o comportamento dos cidadãos.

Na sua aceitação estrita e oficial, o laico é o princípio da separação entre Igreja (ou religião) e Estado. Etimologicamente, o termo vem do latim lāicus, um empréstimo da palavra grega laikos ("do povo"). A palavra é um adjetivo que significa uma atitude crítica e separadora da interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas.

O que rege nosso Estado é a Constituição Federal, que em seu 5º artigo diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” Assim, deve haver liberdade para os cidadãos manifestarem a sua fé, qualquer que ela seja, sem haver controle ou imposição de uma religião específica.

Cabe àqueles que se dizem democráticos o respeito ao diferente. A tolerância é que define o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. E tolerância para Locke é “parar de combater o que não se pode mudar”. Independente de crer que sua forma de ver o mundo é a única, pois como diz Clarice Lispector, “e se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar”.

Quando compreendemos que o outro é detentor dos mesmos direitos que os nossos e assegurados pelos mesmos códigos laicos, adotamos o modelo de Albert Einstein “meu ideal político é a democracia, para que todo o homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado”.

6 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo! Temos que entender que RESPEITAR é AMAR. Garantir direitos que estão na Constituição Brasileira não é querer demais, é querer o que lhe é de direito. Para alguns cristão que se sentem o dono da verdade e julga, e condena os outros eu deixo a frase de Ghandi: "Quando eu conheci o cristianismo me apaixonei, quando conheci os cristãos me decepcionei" Sejamos luz para a vida das pessoas, sejamos sal para dar gosto e não motivo para as pessoas afastarem-se das religiões.

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  2. muito bem escrito e explicado, parabéns!!!

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  3. Pois é, quando começarmos a pôr em prática não apenas a tolerância, mas o respeito, o mundo se tornará melhor.

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