Cotidianamente, vemos pessoas furando filas. Alguns o fazem de forma ingênua, despretensiosamente; outros se tornam transgressores profissionais. Essa malandragem está virando hábito. Não há mais diferença de classe econômica, de idade ou de gênero. Quando menos se espera, vupto! Alguém toma nosso lugar e faz cara de paisagem como se nada tivesse acontecido.
Eu tenho uma lista dos três piores vícios sociais: atender telefone em locais públicos nos quais se espera silêncio (teatro, cinema, museu, escola, templos...), gritar nos mesmos lugares e furar fila. Para mim, a última é de longe o pior costume moderno, mas tem sempre um dissimulado que se acha no direito de passar à sua frente.
Antes era coisa da canalha, “sem berço”, que não sabia se comportar em sociedade. Hoje, não. É quase regra. Vemos madames furando as filas de supermercados e de boutiques, senhores espertalhões roubando vagas nos estacionamentos de shoppings e adolescentes furando a fila do cinema, com a mesma cara de paisagem.
Tente pegar coletivos que passem por faculdades ou escolas. Universitários que deveriam ter o mínimo de civilidade vivem acotovelando-se para passar na frente uns dos outros. Esses dias, uma moça, magrinha coitada (!), foi arremessada em plena avenida por uma colega quando tentava subir o primeiro degrau do lotação. Eles entreolham-se como se dissessem: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Na semana passada, fui tomar o ônibus até Remígio-PB e uma senhora (com seus 50 anos) entrou à minha frente, enfiou-me as axilas no nariz e boca, empurrou-me com suas nádegas fartas e quase fui ao chão como a universitária acima. Olhou-me aborrecida como se a culpa do imbróglio fosse minha.
Nos consultórios médicos é a mesma coisa, tem sempre um espertinho querendo ser atendido primeiro. A desculpa é a mesma: “que estou muito ocupado e tenho muita coisa para fazer”. Quem na vida só tem uma consulta para fazer? Até o médico tem outras obrigações. Esses semideuses se sentem as criaturas mais importantes do mundo que não podem esperar como simples mortais.
Hoje, porém, foi a gota d’água. Em uma cerimônia religiosa, o palestrante falou do amor, do respeito ao outro e da capacidade de nos transformarmos e sermos melhores. Terminada a preleção, a dirigente disse que aqueles que quisessem fazer o sacramento permanecessem sentados, enquanto que os outros saíam em silêncio. Pronto! As pessoas começaram a passar à frente dos demais. Até nas casas religiosas a praga do furar fila já chegou!
Pois é...hábito horrível que temos por aqui. Sobrando malandragem e faltando ética nesse país.
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