Há momentos em nossa vida que não adianta teimar com o cérebro e querer que ele se concentre em conceitos abstratos, quando nossa mente está viajando a mais de 299. 792.458 metros por segundo. Assim como também é injusto querer que pare e veja só preto e branco à medida que uma tempestade de cores e matizes variados brota na nossa frente.
Para meu amigo Diego, um Free e o silêncio são muito importantes. Eu, que não fumo, fujo de minhas leituras acadêmicas mergulhando em Rubem Alves. Do universo à jabuticaba é quase meu astrolábio mental. É uma espécie de guarda-chuva a me proteger da tempestade caleidoscópica que bombardeia minha mente quando não consigo ler/escrever nada.
Outro refrigério mental é minha janela. Levanto-me da cadeira giratória, apago a luminária, dou três passos, afasto a cortina e olho Campina de uma forma carinhosa, como uma amante que dorme tranquila.
Depois de ver os choramingões de meus colegas de Facebook, por não termos trazido uma estatueta dourada da Academia Americana de Cinema, e Rafael Carvalho ironizar que já temos dois Oscares importantes: Niemeyer e Schmidt, tentei me concentrar em minhas não agradáveis leituras acadêmicas.
Impossível. Minha janela estava a me chamar. Aberta, deixava passar lufadas de uma agradável corrente de ar. Senti um ligeiro orvalho da madrugada avisando que o horário de verão havia acabado e que as estações do ano não são tão precisas nessas paragens. Em pleno verão, uma névoa cinza cobria as luzes amarelo avermelhadas da copa da selva de concreto campinense.
Não resisti. Fui até à mochila peguei a câmera fotográfica e fiquei a registrar a paleta de cores que o horizonte teimava em me mostrar. Era como se ele dissesse que há tempo para tudo, inclusive de deixar a leitura cinza e aproveitar as luzes da madrugada.
Como se a madrugada que esfriava sussurrasse aos meus ouvidos “cheire as rodas, carpe diem”. Olhei para a torre do convento São Francisco, vi seu relógio e ele piscava para mim, “Tempus fugit”. Lembrei-me do coelho de “Alice no país das maravilhas”, dizendo que está sempre atrasado. O vento, em uma nova lufada, sussurrou ao meu ouvido “Tempus fugit”.
Abri o diafragma da câmera e deixei a luz de um colorido místico ser capturada pela lente para que eu pudesse compartilhar uma manhã de luz com meus amigos. Voltei a me lembrar de uma frase de John Lennon: "A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro".
Sem culpa, fiz o tempo de silêncio que Diego gastou para fumar seu Free, e construir sua liberdade de pensamento. Aproveitei o momento como se recitasse um mantra. Dentro de mim aquela luz ecoava silenciosamente: “cultive o silêncio, não deixei que seus pensamentos gritem e façam perder a magia do mundo”.
Quem quiser ver as fotos, é só conferir no meu face. Há um outro texto Se minha janela falasse... no qual eu descrevo o que enxergo de minha janela.
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ResponderExcluira minha janela é lateral, como a do lô borges e do brant, mas não menos perturbadora/desafiadora que a tua.
ResponderExcluirao abri-la, não vejo tantas campinas, mas vejo meu próprio coração, clamando por sair por aí, a encontrar amigos com quem tomar um café, conversar sobre fotografia ou choromingar pelos oscares que perdermos.
e os que temos.
Adoro tua janela , ela também me fala !
ResponderExcluirO tempo voa por ela e eu fujo de mim...
Moema Vilar
Aqui, tenho o meu quintal !
ResponderExcluir;P
Moema Vilar