PPara os não-nascidos na capital paranaense, os curitibanos são extremamente “frios”. Lembro que na semana em que cheguei a Curitiba, um dos moradores da casa na qual estou hospedado perguntou: “Sabe o que o curitibano fala ao encontrar a esposa com outro? Nada. Eles não falam com estranhos”.
Na verdade, não costumamos emendar uma conversa com pessoas que nunca vimos, nem conhecemos. Desde pequenos, nossos pais aconselham a não falar com estranhos. O curitibano levou isso muito a sério. Não é fácil trocar uns dedinhos de prosa com eles se os virmos pela primeira vez.
No entanto, se quiser falar com eles por mais tempo, sem nunca tê-los visto, tenha um cachorro. Repetidas noites, saio com Mabi, uma poodle que pensa que é gente, que pertence à minha anfitriã, e os outros donos de cães logo perguntam se “é uma moça ou um rapaz”, o nome e quantos anos tem, perguntas que fazemos sobre bebês humanos.
Ao descobrirem que não sou curitibano, perguntam de onde sou, o que estou achando do frio, qual minha impressão sobre a cidade, nossa! Soltam a língua. Questionam a finalidade de minha vinda à cidade o que já visitei e me sugerem os locais que deveria ir. “O Parque Tingui é lindo, um dos mais bonitos de Curitiba”, disse-me uma senhora que puxava José, yorkshire mal humorado.
Outros ficam revoltados com a situação dos animais de rua, a ponto de quererem a prisão dos “canalhas que abandonam os bichinhos na rua. O que eles fizeram de mal a eles? Eles não têm como se defender, ficam com fome, com frio. É um crime”. Confidenciou-me Augusta, uma senhora dessas que tagarelam com quem tem cachorro, sem nem olhar para um sem-teto, deitado perto da fonte da Praça Rui Barbosa.
Aqui, os cães são praticamente da família, andam com roupas quase humanas, ainda não vi os de cachecol, mas de suéter, nem conto as vezes. Os proprietários se referem aos seus cães como se fossem “meu bebezinho, que a mamãe ama tanto”, dão beijinho nos pets e os carregam no colo, como se fossem recém-nascidos (humanos).
Se você não é curitibano, assim como eu, e quer papear com eles e conhecer um pouco mais sobre o povo da “capital modelo”, tenha um cachorro. Se não o tiver, saia com o do vizinho ou de quem o estiver hospedando, além de ser uma ótima atividade física, é uma investigação sociológica ímpar.
Somos assim mesmo. Talvez os cães sejam como uma valvula de escape, uma forma de podermos quebrar esta forma gelada de ser curitibano. Sou frequentador da Praça Rui Barbosa e falo desta nossa forma de socialização no dodines.blogspot.com. Sou dono de dois pequineses acho que é a raça mais curitibana que exista: distante, ignora estranhos. Vvaidoso mas bem no fundo muito carinhoso com os escolhidos . Mauricio Soares
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