Em 1994, o fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson, um dos mais importantes do século XX, disse uma frase que lembro sempre: “Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração." Um pouco antes, ele tinha falado que “as coisas das quais nos ocupamos, na fotografia, estão em constante desaparecimento e, uma vez consumado, não dispomos de qualquer recurso capaz de fazê-las reaparecer."
Um sábado desses, estava passando no Shopping Estação, aqui em Curitiba, resolvi entrar no Museu Ferroviário, que fica anexo. Vi uma coisa muito interessante. Uma família (Rose e Fred Konieczniak) que aluga roupas de época para as pessoas (turistas principalmente) serem fotografadas como os imigrantes que chegavam no tempo. Fred, um engenheiro mecânico, só cobra a impressão da foto e a moldura, também de época.
A foto é sempre impressa em sépia para dar a impressão que foi um instantâneo do início do século XX. Pois bem, havia uma família, já terceira geração, para fazer uma dessas fotos, como presente do Dia das Mães da matriarca. Os mais jovens, já bisnetos, se divertiam, tirando seus tênis modernos e vestindo coletes, chapéus e “calças curtas”. As moças faziam questão de escolher os acessórios, como sombrinhas e chapéus à francesa.
O tênis do rapaz de suspensório vermelho o denuncia
O patriarca trajava terno fino, um chapéu elegante e portava uma bengala inglesa, que fazia questão de fingir que batia nas cabeças dos netos, mas denuncia a brincadeira, pois tinha no rosto um sorriso paternalista e brincalhão. As senhoras da família davam os últimos retoques nas joias, verdadeiras trazidas de casa, como confidenciava a mãe para a filha.
Nesse momento esqueci Baudrillard, com sua teoria do simulacro, e mesmo Featherstone, com sua criação de um cotidiano esquecido e trazido para criar uma tradição e uma memória artificial. Lembrei Mia Farrow, quando afirma: "A fotografia nunca se revela por inteiro quando você se desmancha por alguém. Essas relações lembram uma foto polaroid: a imagem vai aparecendo aos poucos. Algumas coisas se distanciam do sentimento original, mas isso é a vida."
Era o que aquelas pessoas estavam fazendo, posando para o presente, com a cabeça no futuro, querendo deixar para as próximas gerações um passado que eles inventavam naquele instantâneo. "Fotografia é o retrato de um côncavo, de uma falta, de uma ausência", Clarice Lispector.
Serviço
Foto à moda antiga
Fred Teodoro Konieczniak (Fotógrafo)
Aos sábados:
Shopping Estação - Junto ao trem
Domingos:
Feira de Artesanato - Largo da Ordem
Durante a semana:
Estúdio a Céu Aberto - R. Albino Silva, 737 - Bom Retiro - Curitiba
Telefones de contato: (41) 3338-8937 - Cel (41) 9664-0736
Olá Zélio, parabéns pelo belo texto, obrigado. Um abraço daquele fotógrafo, engenheiro, mas que ainda não pendurou as chuteiras! Saudações fotográficas clic, clic, clic !!! Fred T. Konieczniak
ResponderExcluirDesculpe, Fred. É que eu ouvi a Rose dizer que já tinha se aposentado. Muita gente de Curitiba não sabia que prestava tal serviço e disseram que querem fazer "um retrato" com você. Fico feliz que meu blog tenha servido para algo.
ResponderExcluirAbraço e mais sucesso!