sexta-feira, maio 27, 2011

"Fotografando o Passado, de Olho no Futuro: Instantâneos que Transcendem Gerações"

Em 1994, o fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson, um dos mais importantes do século XX, disse uma frase que lembro sempre: “Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração." Um pouco antes, ele tinha falado que “as coisas das quais nos ocupamos, na fotografia, estão em constante desaparecimento e, uma vez consumado, não dispomos de qualquer recurso capaz de fazê-las reaparecer."

Um sábado desses, estava passando no Shopping Estação, aqui em Curitiba, resolvi entrar no Museu Ferroviário, que fica anexo. Vi uma coisa muito interessante. Uma família (Rose e Fred Konieczniak) que aluga roupas de época para as pessoas (turistas principalmente) serem fotografadas como os imigrantes que chegavam no tempo. Fred, um engenheiro mecânico, só cobra a impressão da foto e a moldura, também de época.

A foto é sempre impressa em sépia para dar a impressão que foi um instantâneo do início do século XX. Pois bem, havia uma família, já terceira geração, para fazer uma dessas fotos, como presente do Dia das Mães da matriarca. Os mais jovens, já bisnetos, se divertiam, tirando seus tênis modernos e vestindo coletes, chapéus e “calças curtas”. As moças faziam questão de escolher os acessórios, como sombrinhas e chapéus à francesa.

O tênis do rapaz de suspensório vermelho o denuncia

O patriarca trajava terno fino, um chapéu elegante e portava uma bengala inglesa, que fazia questão de fingir que batia nas cabeças dos netos, mas denuncia a brincadeira, pois tinha no rosto um sorriso paternalista e brincalhão. As senhoras da família davam os últimos retoques nas joias, verdadeiras trazidas de casa, como confidenciava a mãe para a filha.

Nesse momento esqueci Baudrillard, com sua teoria do simulacro, e mesmo Featherstone, com sua criação de um cotidiano esquecido e trazido para criar uma tradição e uma memória artificial. Lembrei Mia Farrow, quando afirma: "A fotografia nunca se revela por inteiro quando você se desmancha por alguém. Essas relações lembram uma foto polaroid: a imagem vai aparecendo aos poucos. Algumas coisas se distanciam do sentimento original, mas isso é a vida."

Era o que aquelas pessoas estavam fazendo, posando para o presente, com a cabeça no futuro, querendo deixar para as próximas gerações um passado que eles inventavam naquele instantâneo. "Fotografia é o retrato de um côncavo, de uma falta, de uma ausência", Clarice Lispector.


Serviço

Foto à moda antiga

Fred Teodoro Konieczniak (Fotógrafo)

Aos sábados:
Shopping Estação - Junto ao trem

Domingos: 
Feira de Artesanato - Largo da Ordem

Durante a semana: 
Estúdio a Céu Aberto - R. Albino Silva, 737 - Bom Retiro - Curitiba
Telefones de contato: (41) 3338-8937 - Cel (41) 9664-0736


segunda-feira, maio 09, 2011

Como ficar parado em Curitiba?

Curitiba é uma metrópole que mistura culturas, cheiros e cores. É cosmopolita desde seu surgimento. É quase impossível não encontrar algum prédio, templo ou rosto nas ruas que não lembre outra etnia. O ônibus turístico, com dois andares, semelhante ao londrino, com a diferença de que a “jardineira” é verde, passa por 24 pontos turísticos, muitos deles memoriais em homenagem aos imigrantes.

Saindo da Praça Tiradentes e percorrendo os locais de visitação, o turista ouve informações em português, espanhol e inglês. A passagem, que custa R$ 25,00, dá direito ao visitante descer em quatro locais diferentes, à sua escolha, e reembarcar no próximo ônibus que passa pontualmente a cada meia hora.

Assim como o dia de ontem, um presente do Dia das Mães, estava com um céu de brigadeiro e o ônibus, aberto na parte superior, proporcionava uma visão clara e colorida da cidade arborizada, cheia de parques, praças e floreiras, colorindo e aromatizando a cidade das araucárias.

O roteiro, de 43 km, passa desde o Jardim Botânico, pelos Parques Tingui, Tanguá (o mais bonito em minha opinião), Bosque do Alemão, Bosque do Papa, até o gastronômico bairro de Santa Felicidade. Mangiare que te fa bene! Santa Felicidade é um pedaço da Itália dentro de Curitiba, com casario, bons restaurantes, como o Madalosso e trattorias típicas.

Após fotografar a Igreja de Santa Felicidade e as fachadas de muitos prédios antigos do bairro, povoado desde 1878 por imigrantes vindos das regiões de Veneto e Trento, fui saborear a comida de um dos mais de trinta restaurantes. Lá descobri que se paga pelo buffet (R$ 22,90) e pode-se comer à vontade das iguarias ali ofertadas. Tinha um arroz com tomates secos e ricota de se comer de joelhos, pois a gula é um pecado.

Ópera de Arame, no Parque Pedreiras.

Mais adiante, uma lasanha de rúcula de cometer mais pecados que os sete capitais. Como se não bastasse, vi um mousse salgado de “formaggio” (que coisa deliciosa!). E para completar, um escondidinho de salmão à azeitona preta. Para acompanhar a comida, o garçom sugeriu uma taça do vinho da casa, um seco encorpado que encheu minha boca. Confesso que repeti, não ia deixar passar. Comi até me fartar, tomei o bendito (e santo vinho) e paguei menos de R$ 30,00. Fiquei satisfeitíssimo.

Saí redondo de tanta comida gostosa e voltei a pegar a “jardineira” no sentido do centro histórico da cidade, mas antes parei na Torre Panorâmica para ver a cidade de cima, uma visão de 360 graus. A torre da Antiga Telepar, equivalente a um prédio de 40 andares, tem um elevador veloz. Custa apenas R$ 3,00 subir ao minarete. Depois de tudo, caminhei um pouco pela Rua Barão de Rio Branco, passei pelo SESC da Esquina, Boca Maldita e olhei para o majestoso Palácio Avenida. Descansei, afinal, ninguém é de ferro, do metal apenas as armações da Ópera de Arame e Estufa do Jardim Botânico.
Palácio Avenida, no qual acontece a Cantata de Natal de Curitiba

 

 

 


sábado, maio 07, 2011

Curitiba e seus en(cantos)


Essa semana,  conversando com um colega, ele me cobrou a atualização de meu blog. Eu fiquei refletindo sobre o que escreveria: o consumo do Dia das Mães, a morte de Bin Laden, a aprovação história do Supremo em benefício dos homossexuais? Não. Nenhum dos temas me chamou a atenção. Então,  o que escrever para meus poucos leitores?

Parei, atravessando a praça de alimentação de um shopping aqui em Curitiba e resolvi escrever sobre  estereótipos. Antes de conhecer o Sul, ouvia dizer que os sulistas eram  europeus que falam português. Um todo homogêneo e que não há negros por aqui. São todos altos, brancos com sobrenomes estranhos, com mais consoantes que vogais e são frios como os alemães. Bom, os poucos alemães que conheci foi aqui no Brasil, então não conta, não é mesmo?  


Primeira coisa é que os curitibanos não são um todo homogêneo. São uma mistura de tribos e etnias. Já encontrei muitos orientais, negros, alguns com traços indígenas e muitos miscigenados. Eles não são apenas brancos e altos. Tem gente de todo cor, como diz a música da cantora baiana.


Quanto a serem frios... é um mito! Já precisei de informações e me atenderam com cortesia. Além de muito elegantes, são corteses. Pedem desculpa quando esbarram conosco no supermercado e são alegres. Não são sisudos como pintam. Quando ouvem  meu sotaque, perguntam de onde sou, dizem alegres: “que bom!. Boa estadia em nossa terra” e dão dicas como aproveitar a cidade.

Há restaurante em tudo que é lugar. A gastronomia é uma arte aqui, não estou falando dos bairros italianos e dos restaurantes étnicos. Come-se muito bem nessa cidade. Já encontrei um restaurante que, se você é vegetariano como eu, paga no máximo R$ 5,50 por uma boa refeição.

Uma senhora, dona Rosa Maria, mas que faz questão de ser chamada de Rose, me disse que faria shucrutiz (um prato típico da cultura alemã) para eu ver que o dela é diferente do que eu havia comido.  Deu-me seu cartão e me disse onde comer um “strudel delicioso, feito com massa verdadeira”. Parecia ser  minha vizinha de anos de tão afetuosa.

A cidade é bem florida, suas avenidas são largas, arborizadas e muito limpas. O transporte é prático e eficiente. No entanto, os ônibus já saem dos tubos transparentes lotados,  pichados e depredados. Curitiba convive harmoniosamente entre o antigo, vendido como ruínas de uma cultura idílica,  e o moderno. As pessoas aqui são “modernas” e por assim serem, são tolerantes e respeitam a diversidade, seja sexual ou étnica.

Casais homossexuais aqui andam livremente de mãos dados e namoram nos inúmeros parques. Apesar de aqui existir a Liga das Senhoras Católicas de Curitiba, não vejo desrespeito com a diversidade sexual. Falaram mais nas ruas dos seis gols que o Coritiba enfiou no Palmeiras do que da morte de Bin Laden. Porém,  eles não apenas se importam com futebol.

Hoje na Boca Maldita, ao redor dos cafés, bancas de revista e bancos do calçadão na Avenida Luiz Xavier (Rua das Flores), no centro, havia duas manifestações: uma para mostrar o nome dos vereadores que são contrários a CPI da Máfia das Multas (radares eletrônicos) e outra organizada pelas mães dos jovens mortos pelo ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho, que dirigia alcoolizado, a 190 km.


E assim é Curitiba, uma cidade com 19 rádios, com inúmeras livrarias e bibliotecas, dezenas de teatros, vários museus, seus 18 shoppings e suas ruas cheias de cafés, bares  e bancas de revistas. Vou ali comer que o cheiro aqui tá bom e não abro mão de uma boa comida.