terça-feira, fevereiro 09, 2010

Um novo sentimento invade as ruas da cidade

A vida nos oferece oportunidades incríveis. Ontem tive uma destas. A convite de Moema Vilar, advogada que abraçou as leis da arte e da produção cultural, para assistir ao ensaio de A Valsa de Molly, uma banda campinense que foge às classificações de estilos musicais, lá no porão do antigo MAAC (Museu de Arte Assis Chateaubriand). Já havia visto uma performance do grupo, mas não conhecia seu processo criativo.

Após descermos as escadas do porão, os músicos começam a abrir os cases e desembainhar os instrumentos. Numa espécie de palco, a banda vai sendo formada. É um violão que dá um acorde aqui, um baixo afinando acolá, um grave de um tambor, um prato em seguida, anunciando que a bateria já está quase pronta. A vocalista testa o microfone.

Pronto. Uma corda do violão arrebenta. Hora de pedir socorro aos amigos e pegar outro emprestado, vida de músico em início de carreira não é fácil. Meia hora depois e com novo violão, Alexandre Lima (Marxuvipano) começa, timidamente, os acordes que lembram um samba carioca, com a pimenta pernambucana de Lenine. O baixo de Fábio Araújo (novato no grupo) segue de cordas/mãos dadas; no meio do caminho, são acompanhados pela bateria de Thiago Fernandes. E para completar o quarteto, a voz suave e quase aveludada de Katarina Nepomuceno. Quando as coisas estão começando a fluir, uma pausa: “o violão está muito baixo”, reclama a vocalista. Thiago confirma.

Enquanto isso, eu, observando, me sento no tablado de madeira, relembrando nossas aulas do curso de formação de atores para cinema (ministrado pelo jovem cineasta André da Costa Pinto). Começo a ouvir o encadeamento dos sons que ganham vida e vão ficando harmônicos, percebendo-se já os temas e variações da música.

Às minhas costas, vê-se um banner do Grupo Acauã da Serra, para mostrar que aquele espaço é um laboratório de arte, e Moema fotografando tudo, como se quisesse registrar as notas desferidas. É muito gratificante ouvir músicas sendo criadas/aperfeiçoadas, tomando corpo, como debutantes a serem apresentadas no seu baile apoteótico. Saber que se está ouvindo coisas que o grande público só sentirá em alguns dias, depois de lapidadas e bem polidas, tal qual diamante.

Levanto-me e perambulo pelo espaço procurando compreender o momento ímpar. O tablado agora vazio assiste aos músicos, quase sussurrando pelos bailarinos do Acauã da Serra que dariam visibilidade àqueles sons, como dizia um papelzinho grudado no mural à esquerda do palco: “dança é música visível”.

Quem passava ao redor do porão, que dá para o Parque Evaldo Cruz (Açude Novo), deveria imaginar o que estava escrito em outro lembrete, também afixado com percevejos no mural: “quem não ouve a melodia acha maluco quem dança”. Já meus dedos teimavam em seguir o baixo e a bateria: um casamento de harmonia. Meu corpo ouvia a música e sabia que aqueles fragmentos temporais (compassos) não eram o mesmo das valsas de Johann Strauss, mas aquela repetição temporal me dava uma vontade de preencher aquele tablado, agarrar Moema e coreografar os TA ta Ta ta | TA ta Ta ta | TA ta Ta ta |.

Com o violão novamente afinado, Alexandre volta e o ensaio recomeça. Em um solo rápido e muita desenvoltura no dedilhado, “essa parte da música é em SI?”, pergunta o baixista que o está acompanhando. E dessa forma a Jam Session continua, com pausas para discutir as batidas e passagens da música.

Agora os músicos apimentam as composições, colocam uma bateria mais rápida, uma batida mais rock&roll, Katarina dar uns agudos a la Janis Joplin ou vocalizações à Nina Simone. Moema era só sorriso, feliz da vida em produzir A Valsa de Molly.

Porém, e sempre tem um porém, quando tudo parecia perfeito, mais uma corda do violão de Alexandre é rompida. Para quem pensou, como eu que assisti a cena com desânimo, que o ensaio ia acabar, ledo engano. O violonista não parou. Passou a executar as músicas com uma corda a menos, como se o instrumento só precisasse de cinco cordas para dar as sete notas da escola musical.

O trabalho continuou. De repente os dançarinos do Acauã chegaram de uma apresentação na FIEP (Federação da Indústria do Estado da Paraíba) e começaram a balançar suas roupas vibrantes e coloridas dando vida ao ambiente e fazendo o tablado ranger, mostrando que não há fronteira para a arte e a Valsa contagia os “bailantes” da dança popular.

A Valsa de Molly é uma banda de Campina Grande, formada pelos músicos Katarina Neppma (vocal), Fábio Araújo (músico convidado), Alexandre Lima (violão) e Thiado Fernandes. O grupo já se apresentou várias vezes em Campina Grande. As batidas pulsantes, acordes bem elaborados e a linda voz de Katarina serão ouvidos no dia 13 de fevereiro, à 00h, no Bronx (Avenida Getúlio Vargas, Bar dentro da programação do Grito do Rock.

Quem quiser conhecer os sons da banda, é só acessar o myspace da Valsa

Ao som da VALSA, seja feliz!

Um comentário:

  1. Além de invadir as ruas da cidade, a música toca, gentil e avassaladora, dentro de nós. Parabéns pelo blog, Zélio. Abraço

    ResponderExcluir