É incrível como o efeito das “cores culturais” ainda emociona na abertura do Encontro da Nova Consciência. É uma pena que outros religiosos tenham se afastado desse banquete espiritual e holístico, que já acontece há 19 anos. É um sonho quixotesco ver as diferenças culturais como as línguas, danças, vestuário e mais variadas tradições culturais e religiosas convivendo em harmonia.
Já houve tempo em que católicos, representados pelo bispo Dom Luiz, ou evangélicos, lembrados pelo Pastor Nehemias Marien, da Igreja Presbiteriana Bethesda, se saudavam reciprocamente como “meu pastor”, dizia o bispo e “meu bispo”, dizia o Pastor. Tempos que era melhor estar juntos em vez de fazer seus des(encontros). Mas, não lamentemos.
Mesmo com as ausências, a exemplo de Iyá Sandra, da Tradição de Orixá, o evento não deixou de cumprir seu papel no fortalecimento do diálogo. Já na noite de abertura, tivemos a apresentação da indiana Ratnabali, que nos mostrou músicas devocionais e tradicionais indianas, além de uma versão da Asa Branca, mostrando que Índia e Brasil são próximos em suas manifestações. A cítara, como chamou atenção minha amiga Regina Albuquerque, lembrava nosso cantadores de viola, com seu Martelo agalopado, um estilo de poema utilizado por cordelistas e cantadores, nos improvisos. Ou mesmo o hármonium, instrumento de som parecido com o de nossa sanfona.
O Encontro deste ano, como o tema “SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SÓCIO-AMBIENTAL” serviu para mostrar que temos uma essência comum, uma origem comum: vivemos no mesmo planeta e a natureza não impôs que determinado grupo seria melhor que outro. Nascemos em determinados localidades, mas somos seres planetários. Habitamos um organismo vivo (hipótese de Gaia). O Planeta Terra não é um amontoado de rochas e água: é um ser vivo, e se interrelacionando mutuamente. Qualquer desequilíbrio causa outro e outro em uma reação em cadeia. O que faz pensarmos que como partes desse ser vivo, precisamos nos comunicar e trocar “informações” para nossa própria sobrevivência.
Só podemos viver se estivermos próximo uns dos outros. Dependemos do outro para sermos quem somos. É o olhar e conhecimento do outro sobre nós o que nos torna indivíduos. Sem ou outro, somos coisas.
Para o filósofo Matin Buber, não há existência sem comunicação e diálogo e que objetos não existem sem a interação. O homem possui a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante, ou seja, a intersubjetividade, a relação entre sujeito e sujeito e/ou sujeito e objeto. O relacionamento acontece entre o Eu e o Tu, e denomina-se relacionamento Eu-Tu. A interrelação envolve o diálogo, o encontro e a responsabilidade, entre dois sujeitos e/ou a relação que existe entre o sujeito e o objeto.
Essa noção de conviver e respeitar o outro já estava nos textos de Sócrates e nos evangelhos do Cristo, mas surge com a ética da preservação do indivíduo como eco da criação no textos do filósofo franco-lituano Emmanuel Lévinas. Para ele, a Ética (consciência moral) e não a Ontologia (parte da filosofia que trata do ser quanto ser) é a Filosofia primeira. É no face-a-face humano que se irrompe todo sentido. Diante do rosto do Outro, o sujeito se descobre responsável e lhe vem à idéia o Infinito.
E o que isso tudo tem a ver com o encontro da Nova Consciência? Tudo. Este projeto de sustentabilidade espiritual/ético/ecológica parte da premissa que é preciso conhecer o outro, valorizá-lo para preservá-lo. Mas não é uma preservação de museu, intocável, como se faz com uma pedra, um inseto ou um artigo de coleção. É a preservação dos valores do outro, de suas manifestações culturais. E a valoração só é possível com convivência, com a interrelação.
Dessa forma, colocamo-nos como responsáveis por todos e, juntos, pela preservação da Terra. Levando em conta que a ecologia ("oikos" = casa) + ("logos" = saber, estudar), portanto, do estudo do local onde vivemos, ou seja, ecologia é a ciência que estuda os seres vivos em "suas casas", no meio em que vivem.
Esse ponto de vista leva-nos a Humberto Maturana, biólogo chileno, que acredita que “O educar se constitui no processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência”.
Assim, pouco ou nada importa se o outro é cigano, índio, budista, católico, judeu, hippie ou com qual grupo esteja identificado. Devemos sempre vê-lo como humano, um ser planetário como eu. Sua preservação é tão importante quanto a minha na história da humanidade. Todos somos um, unos e diversos. É essa a lição que o Encontro da Nova Consciência nos deixa depois de quatros dias transitando e aprendendo com todas essas culturas todas.
Vida longa ao encontro!
Vida longa ao encontro!
Axés! Ahô! Hare krshna! Ja selassié! Amém! Shalom! Insha'Allah!
Esse "encontro" da Nova Consciência na verdade é o desencontro e a guerra de egos e religiões.
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