segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Tudo que é meu, carrego comigo

Imagine-se naqueles dias em que passamos na Praça da Bandeira e vemos uma cachorrinha vira-lata, no fim da tarde, olhando o movimento dos estudantes que descem dos ônibus para comer em rápidas abocanhadas um “dogão”, antes da primeira aula. A pequena Baleia repara os carros que sobem a Floriano Peixoto, observa ainda, levantado o focinho, o já famoso chapéu de couro de Mestre Biliu, como se ela fosse o mais humano dos seres? “Saber que um cachorro entende a linguagem que os seres humanos já nem sabem” (Bráulio).

Ou ainda naqueles momentos em que passamos pela catedral e observamos que tem um mendigo rezando (de joelhos) do lado de fora, com mais fervor que os cavalheiros e suas damas bem trajados. E ainda o vemos agradecendo, com gestos singelos, pela vida difícil que (sobre)vive.

No entanto, me delicio quando passo perto de um “louco” e ele me diz as mais belas coisas sobre a vida e sua complexidade. Sei que, como diz Bráulio Tavares, “os loucos e os visionários são o dicionário dos sonhos de Deus”. Aprendo mais com eles do que com toda a filosofia de Descates. E esses dicionários ambulantes sabem que existem, mesmo sábios e doutores dizendo que eles não pensam.

Para você, que ainda se emociona ou acha graça nestas coisas, o “Carrego comigo” surgiu para nós. Há muito tempo, esta é minha frase muleta. Bias de Priente, um dos sete sábios da Grécia, quando Ciro da Pérsia estava prestes a invadir sua cidade e os habitantes se esforçavam para levar consigo o que podiam, disse apenas: “Tudo o que tenho (de valor) carrego comigo”. Dito em latim fica mais solene: “Omnia Mea Mecum Porto”.

Os Franciscanos souberam melhor usá-la, ao pregarem a pobreza material e a riqueza de práticas fraternas. Para eles, só se podia chamar de “seu” aquilo que pudesse ser carregado pelo dono: o uso fruto era apenas um direito.

Em outro sentido, carregamos conosco tudo que temos, nossos medos, préconceitos e conceitos estabelecidos em anos de “cultura”. Não pretendo parecer sábio nem passar minhas “verdades” a qualquer pessoa. Quero dividir “o que tenho” com aqueles que estão dispostos a ler.

Este será mais um diário de meus apontamentos, sabendo que um ponto de vista é a visão de apenas um ponto. Comentários serão bem vindos. Críticas serão aceitas e analisadas, bem como as sugestões.

Um comentário:

  1. Pois então eu carrego a filosofia dos socráticos, o pensamento de Heráclito, a arte de Da Vinci, a genialidade de Neuwton, a literatura de Clarice e a agudeza de Oscar Wilde. Carregando tudo isso e muito mais tento decifrar o mais enigmático mistério da vida: o que sou eu?

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