Para pessoas da minha geração, a tecnologia é a melhor aliada na resolução de problemas burocráticos. Internetbank, bankphone, caixa eletrônico, e uma parafernália de recursos que diminuem nossa necessidade de ir às agências bancárias e nos poupam das estressantes filas.
Devido à greve dos bancos e aos caixas eletrônicos vazios, tive que sair da universidade após um dia de estudo, atravessar a cidade e entrar na catedral do capitalismo e praça de serviços: o shopping center. Depois de dois ônibus e alguns esbarrões, cheguei lá para pegar alguns trocados e matar minha fome.
Optei por uma sopa deliciosa acompanhada de torradas salpicadas de orégano. Originalmente, desejava tomar um chope e papear sobre a vida, a nossa e a dos outros. Mas estava só, perdido na multidão. Enquanto saboreava minha sopa, li e-mails, ri de fotos engraçadas enviadas por um amigo paulistano, zombando dos corintianos. Estava prestes a sair quando vi uma imagem sorridente acenando para mim.
Era Ludmila, uma adorável ex-colega de trabalho, que se deliciava com um saco enorme de Doritos Nachos, acompanhada de um amigo que partiria para a terra da garoa no dia seguinte. Cumprimentaram-me educadamente e me convidaram a sentar-me com eles. Aceitei, contando-lhes sobre minha vontade de tomar o chope e tentando convencê-los a me acompanhar. Recusaram. Fui buscar por conta própria.
Dirigi-me a uma das lanchonetes e comprei apenas para mim. David, amigo de Lud, comprou dois refrigerantes da latinha vermelha, e voltamos à mesa. Lá, conversamos sobre quase tudo. Ele, adestrador de cães, falou sobre seu ofício, viagens, valores absurdos de refrigerantes e a saudade que sentirá de seu cachorro.
Eu, gaiato por natureza, comecei a fazer palhaçadas e contar histórias engraçadas. De repente, David olhou para Lud na direção da Estação de Jogos, perto da loja que tem o nome de uma ferramenta usada no beisebol, e disse algo digno de poetas: "Olhando assim para ti, já que estou sem óculos, te vejo como uma foto desfocada. Teu rosto está nítido, mas o fundo está todo desfocado." Rimos e tentamos filosofar sobre aquilo.
Lud, vestindo uma roupa preta com detalhes listrados, um par de brincos, batom discreto e um sorriso lindo, parecia uma modelo vintage. Voltamos a falar de outras coisas, trabalho, estilo de vida, morar em Sampa, e comemos mais salgadinhos. Depois de uma conversa agradável, voltei para casa para terminar um artigo mais leve, com a sensação de que existe vida real na praça de alimentação de um shopping e que um mundo só existe a partir das coisas simples e cotidianas, nada tributável e epistemológico.
Peguei o ônibus 092 e cheguei em casa após passar por seis agências bancárias com seus papéis autoritários gritando "Greve!". Sorri gostoso e agradeci aos bancários por terem entrado em greve, sem piquetes e assembleias, e por ter me deparado com companhias tão agradáveis.
Ahhh, agradável é vc, q ainda fez esse registro, de modo q esse encontro nunca se apague.
ResponderExcluirvc não sabe, mas eu me orgulho diariamente dessa convivência contigo. cada vez q leio penso "ó, e ele é meu amigo!"
Obrigada por ser sempre uma dose de boas energias, bons sentimentos, de intelectualidade e, obviamente, de humor!